Enem: Candidatos e educadores listam prós e contras de grupos de estudo; veja dicas
Estudar juntos ajuda ou atrapalha na preparação? confira principais dicas para não perder o foco
Eles têm aula durante toda a manhã, das 7h às 12h. Quando acaba, não significa que é hora de ir para casa, mas sim de continuar estudando, com foco especial no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De olho em uma vaga no ensino superior, o trio de estudantes do 3º ano do Colégio Vitória Régia, Rafael Ferreira, 16 anos, Carlos Henrique Rocha, 17, e Marina Mota, 17, se reúne, duas vezes por semana, na biblioteca da escola para estudar juntos para os simulados pré-vestibular, aplicados pela instituição todos os sábados.
Às quintas e sextas-feiras, quando não há aulas no período da tarde, eles passam cerca de quatro horas estudando, das 13h às 17h, cada dia para uma das disciplinas das duas provas do final de semana. “Pela manhã, nós decidimos qual matéria vamos estudar, mas antes fazemos as atividades em casa e, em grupo, a gente só faz tirar as dúvidas”, conta Rafael, que quer cursar Engenharia Química ou Agronomia. “Sou bom em Física, minha colega é boa em Biologia e nós acabamos ajudando um ao outro”, completa.
No entanto, ele também vê desvantagens nessa prática. “O ruim é que, às vezes, há uma perda de tempo quando um demora mais do que o outro para pegar o assunto. Aí tem que parar e explicar para poder seguir”, revela. Carlos, seu colega, não vê desvantagem nessa forma de estudo. “A meu ver, não há desvantagens. Os integrantes sempre trazem coisas que eu não sei”, conta ele.
O estudante, que quer prestar o vestibular para Psicologia ou Nutrição, relata que o ambiente do colégio ajuda ainda mais no processo. “Já estamos ali no embalo, então temos que aproveitar. Em casa a gente fica relaxado, só quer descansar”, destaca Carlos.
Mudança de hábito
De acordo com o advogado e professor Waldir Santos, especialista em Estratégias de Preparação para provas de concursos, o estudo em grupo pode trazer vantagens que nenhuma outra forma é capaz. O problema, segundo ele, é que os candidatos estão acostumados a fazer isso de forma tradicional. “As pessoas não têm esse ganho quando estudam tradicionalmente, transformando o momento de estudo numa diversão, numa oportunidade de convívio social. Elas optam por grupos porque querem se livrar do estudo”, argumenta. Rafael confessa que chega a “rolar uma conversinha” durante a reunião, mas diz que a distração também acontece quando estuda sozinho.
No início do ano, Maria Clara Furtado, 17, estudante do 2º ano do Colégio Integral, começou se reunir com uma amiga. Logo, outras pessoas foram se juntando às duas e, atualmente, na véspera de provas, o grupo chega a ter 20 pessoas.
Boa prática
Durante os encontros nas segundas e sextas, cinco costumam frequentar. “Desde o início do ano estudo em grupo. Ao longo do tempo, percebi que meu rendimento era melhor estudando assim. Todos temos como foco passar no vestibular, então estudamos com o intuito de aproveitar o máximo da matéria, ajudando um ao outro”, comenta ela, que quer cursar Medicina.
Para a coordenadora do Integral, a psicopedagoga Rita Sá, esses alunos que fazem grupos espontâneos “são muito mais focados e não têm adultos lhes pressionando”.
Segundo ela, a “agenda” dos alunos também acaba tornando os grupos uma boa alternativa. “Como essa geração de adolescentes está com hábitos de acordar cedo, quando eles chegam em casa, querem dormir e, ao acordar à noite, ficam indispostos para estudar. Então, eles estão formando grupos para estudar à tarde porque se ficam em casa não conseguem”, ilustra.
Estratégias
Conforme o professor Waldir Santos, o sucesso da estratégia de estudar em grupo depende da escolha de quem vai compor a equipe, bem como da divisão das tarefas para apresentação dos conteúdos e separação de questões sobre os temas a ser estudados nos encontros. Segundo ele, essa divisão faz com que todos economizem tempo, já que cada um se dedicará, exclusivamente, a um assunto para trazer para os demais. Ainda conforme o especialista, o ato de ensinar também é uma das melhores formas de se aprender, pois exige que a pessoa estude e pense sobre o assunto.
Também diferente do que se costuma fazer, para ele, a forma positiva nem mesmo é estudar com quem tem mais conhecimento e, sim, aprender com pessoas que estejam no mesmo nível. “O primeiro erro é esse. As pessoas não se preocupam em estudar com quem tem o mesmo nível, querem estudar com quem sabe mais. Um bom estudo em grupo deve levar em conta que pessoas que sabem mais que você não conseguem se desenvolver tanto e nem você consegue alcançá-las”, cita.
Incentivo
Diretora do Colégio Oficina, Márcia Khalid conta que o estudo em grupo é sempre incentivado no período oposto ao das aulas. “Nós oferecemos o espaço da escola, a biblioteca mesmo. Quando necessário, nós também ajudamos organizando os grupos”, exemplifica.
Para ela, a prática é válida justamente pela troca de conhecimentos. “Há muitos ganhos nessa prática, tanto para quem ensina, quanto para quem está com dificuldade”, acrescenta Márcia Khalid.
PRINCIPAIS DICAS PARA NÃO PERDER O FOCO
Formação do grupo É importante escolher as pessoas certas para o seu grupo, ou seja, pessoas que estejam com objetivos semelhantes aos seus. Evite se reunir, por exemplo, com quem não sabe diferenciar o momento de estudar e o de conversar
Celular Use o celular ou smartphone como instrumento de auxílio ao estudo. Os estudantes entrevistados citaram os aparelhos como um dos principais elementos de distração. Ou seja, importante dar um tempo nas redes sociais
Nível Estude com pessoas no mesmo nível de conhecimento que você. Assim, um não ‘atrasa’ o outro
Prática Divida as tarefas entre os membros do grupo e separe questões para ser resolvidas sobre assuntos que serão estudados no encontro.
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