Ranking do Enem mostra deficiência do sistema escolar baiano

Das 250 escolas mais bem avaliadas no ranking nacional, apenas quatro são baianas

Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2015) indicam que a Bahia não vai muito bem na educação. Das 250 escolas mais bem avaliadas no ranking nacional, apenas quatro são do estado – Colégio Helyos e Colégio Acesso, em Feira de Santana, Colégio Anchieta e Colégio Militar de Salvador, na capital. Os dados foram divulgados nessa semana pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e representam as melhores médias de notas obtidas pelos alunos de cada instituição nas provas objetivas aplicadas pelo instituto.

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Para alcançar melhores resultados, os educadores ouvidos pelo CORREIO apostam em medidas como  educação continuada, melhor formação e qualificação dos professores, além da criação de um ambiente favorável para o aprendizado. Esses fatores, segundo eles, fazem toda a diferença para os estudantes.

Formação integral
Terceiro lugar na Bahia e 218º no ranking nacional, o Colégio Militar de Salvador (CMS) é a única instituição da rede pública de ensino entre os melhores colocados. Com média de 642,95 no Enem, o CMS aposta na educação continuada e na formação do aluno enquanto cidadão.

“Nosso trabalho começa no sexto ano do ensino fundamental e se dá ao longo dos sete anos, até o final do ciclo do ensino médio”, diz o tenente-coronel Moraes Ramos, chefe da divisão de ensino

da escola, que, em seguida, completa: “O nosso diferencial é que estamos comprometidos com a formação integral dos cidadãos, passando também os valores do exército brasileiro”.

Os estudantes do CMS contam também com turmas extras, no último ano, para aqueles que querem se preparar ainda mais para o Enem e seleções das escolas militares, sempre no turno oposto às aulas. “Seguimos a Lei de Diretrizes e Bases e ficamos felizes com o resultado obtido”, diz.

Indicadores
Para o educador e reitor da Unijorge, Guilherme Marback Neto, os fatores que influenciam na qualidade do ensino são complexos e envolvem desde questões financeiras e de infraestrutura acadêmicas.

“O resultado do Enem é um sinal de que as coisas não estão indo bem. Temos visto isso a partir de outros indicadores também, como o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]”,constata. “Para melhorar todo o setor educacional da Bahia, seja público ou particular, é preciso trabalhar junto”, completa.

Na opinião de Marback, a melhoria da qualidade da educação passa pela valorização dos professores e de sua formação. “Sendo uma profissão bem estimada, mais pessoas vão querer ser professores e vão pensar melhor em como ajudar o aluno a aprender, uma vez que existem diferentes realidades entre o estudante das escolas públicas e privadas”, avalia.

Formação
Assim como ele, a coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (Faced) da Ufba, Raquel Nery, acredita que uma melhor formação do professor influencia positivamente o rendimento dos estudantes e esse é um dos indicadores levados em consideração pelo Inep. “Os cursos de formações de professores no estado estão muito ligados ao conteúdo disciplinar e não se dá muita atenção à dimensão prática da profissão docente”, observa.

De acordo com a coordenadora, essa face da formação tem sido negligenciada. “As licenciaturas na Bahia têm funcionado mais como bacharelados, e as disciplinas que são didáticas e metodológicas acabam sendo um apêndice no final do curso”, diz.

Para ela, a qualidade da educação também passa por funcionários mais valorizados e com planos de carreira, além de uma melhor infraestrutura das escolas.

“Profissionais não conseguem se dedicar integralmente quando trabalham em vários lugares. Mesmo assim, a qualidade do ensino não é de responsabilidade apenas do educador, pois existe todo um contexto”, argumenta.

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