Colunista Dr. Rafael Leite: “Infecção por Zica Virus”
INFECÇÃO POR ZIKA VIRUS
O Zika virus (ZIKAV) é um Arbovirus, ou seja, um tipo de vírus que pode ser transmitido aos humanos por insetos (mosquitos e carrapatos, por exemplo), nos quais ocorre parte de seu processo de replicação. Ele pertence à família Flaviviridae, a mesma dos vírus da dengue e da febre amarela, e foi isolado, pela primeira vez em 1947, em macacos na Floresta de Zika, em Uganda, na África. Anos mais tarde, o vírus zika foi identificado em humanos, na Nigéria. Depois, há notícias de sua presença em diversas regiões da África, no leste asiático, na Oceania e, mais recentemente na Ilha de Páscoa, no Chile, assim como na Colômbia, Paraguai, México e Venezuela.
É bem possível que o Zika virus tenha entrado no Brasil trazido por turistas que vieram assistir à Copa Mundial de Futebol, em 2014. Outra hipótese é que tenha sido trazido pelos atletas da Polinésia Francesa, que participaram de uma competição de remo no Rio de Janeiro. O fato é que o Zika virus só foi identificado no nosso país em abril de 2015, por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia. Em pouco tempo, porém, ele se dispersou por 18 estados do País, levado pelo mosquitoAedes aegipty, o mesmo que serve de vetor para os vírus da dengue, da febre chikungunya (que pertence a outra família viral) e da febre amarela.
No início, a infecção pelo zika não despertou maiores cuidados das autoridades sanitárias, porque aparentemente causava uma doença de evolução benigna. Não havia registro de mortes nem de complicações por esse vírus na literatura científica mundial. No Brasil, entretanto, a experiência clínica está mostrando exatamente o contrário: já foram registradas mortes de pessoas infectadas e há um surto crescente de casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré, especialmente nos estados em que já ficou provada a proliferação do vírus.
O Zika é um vírus novo, pouco conhecido. Desde que foi descrito, pela primeira vez, em Uganda, possivelmente sofreu várias mutações, que aumentaram sua capacidade de replicação nas células humanas.
Segundo os estudos demonstraram, existem duas linhagens (cepas) diferentes desse vírus: a africana, que infecta predominantemente macacos e mosquitos, e a asiática, que infecta mais os seres humanos.
Ainda não se sabe exatamente como ele age no organismo. De acordo com pesquisas recentes, ele afeta o sistema imune e tem predileção pelas células jovens do sistema nervoso central. Estudos indicam que a infecção não é contagiosa, isto é, não passa de uma pessoa para outra, mas pode ter implicações bastante graves.
O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde reconheceram oficialmente a relação entre o nascimento de bebês com má-formação cerebral e a circulação simultânea do ZIKAV, no Brasil. Isso não quer dizer que ele seja a causa dos novos rumos que a infecção está tomando no país ou, mesmo, que somente ele esteja envolvido nesse processo.
Transmissão
A infecção por ZIKAV é transmitida para uma pessoa sadia pela picada da fêmea infectada do Aedes aegipty, que necessita de proteína do sangue para o amadurecimento de seus ovos.
O vírus já foi identificado no sangue, no leite materno, no sêmen, na urina e na saliva das pessoas infectadas. No momento, a atenção das autoridades sanitárias está voltada para o risco de transmissão por transfusão de sangue e relações sexuais.
Sinais e sintomas
Em 80% dos casos a doença pode ser assintomática. Quando os sinais aparecem, em geral dez dias depois da picada, podem ser semelhantes aos da dengue, porém tão menos agressivos que chegam a ser confundidos com os sintomas de uma virose banal e passageira. Como desaparecem espontaneamente depois de três a sete dias, na maioria dos casos, as pessoas nem chegam a procurar assistência médica e não recebem o diagnóstico da doença.
Por isso, é preciso estar atento aos seguintes sintomas que fazem parte do quadro típico da infecção pelo Zika virus:
- Febre geralmente baixa ou ausente;
- Aumento dos gânglios linfáticos;
- Dor de cabeça, no corpo e nas articulações (que pode durar várias semanas);
- Erupção cutânea (exantema maculopapular) acompanhada de coceira intensa que pode tomar o rosto, o tronco, os membros e atingir a palma das mãos e a planta dos pés;
- Fotofobia (sensibilidade à claridade intensa);
- Conjuntivite (olhos vermelhos, inflamados, lacrimejantes e sem secreção purulenta);
- Diarreia, náuseas, mal-estar;
- Cansaço extremo.
Diagnóstico
O diagnóstico é basicamente clinico. O médico leva em conta os sintomas e o histórico do doente.
Existem exames específicos para pesquisar a presença de anticorpos ou fragmentos dos vírus no sangue do paciente. Em determinadas situações, esses exames podem ser uma estratégia importante para estabelecer o diagnóstico diferencial com a dengue e a febre chikungunya, doenças que apresentam quadro clínico semelhante. Serve também para dar continuidade aos estudos sobre as características, prevenção e tratamento da infecção por Zika virus.
Complicações
Embora a infecção por Zika virus possa passar despercebida, porque os sintomas não são valorizados, os casos confirmados de microcefalia indicam que as mães foram infectadas pelo vírus nos primeiros meses de gravidez. De alguma forma, ele provoca uma alteração no sistema imune que lhe permite atravessar a placenta e alcançar o feto, impedindo que seu cérebro se desenvolva normalmente. A criança é considerada portadora de microcefalia, quando seu perímetro cefálico é menor do que 32 cm.
Estudos recentes indicam também uma ligação entre o Zika virus e a Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que se manifesta depois de infecções por vírus ou bactérias e ataca os nervos periféricos, que perdem a bainha de mielina. Essa desordem do sistema imune provoca fraqueza muscular e paralisia que, nos casos mais graves, podem pôr em risco a vida .
Prevenção
Não existe vacina contra o Zika virus. Por enquanto, a única forma de prevenir a infecção é combater os criadouros dos mosquitos, que proliferam em depósitos de água parada nas proximidades das residências.
Tratamento
Não existe tratamento específico contra a infecção pelo Zika virus. Como nas outras viroses, certos medicamentos – analgésicos, anti-inflamatórios, antialérgicos e colírios – são úteis para aliviar os sintomas.
O importante durante a vigência da infecção, é permanecer em casa, em repouso, redobrar os cuidados com a hidratação e ingerir uma alimentação saudável e balanceada.
Atenção: Como acontece nos casos de dengue, remédios que contêm ácido acetilsalicílico são contraindicados, porque podem aumentar o risco de hemorragias.
Recomendações
- Verifique, com frequência, se não existem condições para a proliferação dos mosquitos Aedes aegipty, nos arredores de sua casa. Lembre-se de que esse é um mosquito com hábitos urbanos, que ataca mais de manhã e ao entardecer, especialmente nos meses quentes e úmidos;
- Mantenha as janelas e portas fechadas, especialmente de manhã cedo e no fim da tarde ou coloque telas para dificultar a entrada dos mosquitos;
- Procure usar, nas horas maior atividade dos mosquitos, calças compridas e camisas de mangas longas;
- Outra alternativa seria usar roupas claras ou coloridas, pois acabam dificultando a identificação pelo mosquito;
- Saiba que os repelentes industriais reduzem, mas não eliminam o risco das picadas dos mosquitos;
- Aplique os repelentes na área exposta da pele e sobre a roupa; não passe o produto perto da boca, dos olhos e do nariz, nem em bebês com menos de seis meses;
- Não se descuide do acompanhamento pré-natal, se está grávida; se não está, espere um pouco para engravidar. Não vale a pena correr o risco de entrar em contato com o ZIKAV que está associado a complicações bastante graves.
Observação importante:
Ao contrário do que se diz por aí, tomar comprimidos de complexo B não ajuda a manter os mosquitos transmissores de doença à distância. A única coisa que funciona mesmo é cada um de nós fazer a sua parte dentro e nas proximidades de nossas casas, eliminando os criadouros do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da febre chikungunya e da infecção pelo Zika virus.
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Colunista do CF Noticias Dr. Rafael Leite