Futuro de Dunga e Gilmar na Seleção será discutido a partir de terça-feira

Maus resultados e decisões extracampo geram críticas internas ao trabalho da dupla, e dirigentes do alto escalão da CBF fazem pressão por troca no comando

Há uma guerra cada vez menos silenciosa em curso na CBF pelo comando da seleção brasileira. De um lado, dirigentes do alto escalão, com poder e influência na entidade, querem trocar o treinador e o coordenador de seleções. De outro, Dunga e Gilmar Rinaldi acreditam que estão sendo fritados e batalham para permanecer nos cargos.

Oficialmente, a CBF não comenta o assunto. A coordenação de seleções, comandada por Gilmar Rinaldi, informa que “o planejamento está mantido para Copa América e Olimpíadas”. Mas mudanças estão sendo discutidas pela cúpula. Haverá uma série de reuniões na semana que vem para tratar do futuro da Seleção. A primeira delas será na próxima terça-feira.

Dunga e Gilmar Rinaldi conversam no treino da Seleção: futuro em aberto(Foto: Créditos: Lucas Figueiredo / MoWA Press)
Dunga e Gilmar Rinaldi conversam no treino da Seleção: futuro em aberto(Foto: Créditos: Lucas Figueiredo / MoWA Press)

Vários dirigentes da CBF participam dessa discussão. Mas a decisão passa obrigatoriamente pelo crivo do presidente licenciado, Marco Polo Del Nero – que foi quem escolheu Dunga e Gilmar para comandar a Seleção após o fracasso na Copa do Mundo de 2014.

As últimas duas semanas foram especialmente difíceis para a dupla Dunga e Gilmar. Os empates contra Uruguai e Paraguai na rodada dupla das eliminatórias sul-americanas derrubaram o Brasil para sexto lugar – fora da zona de classificação para a Copa do Mundo da Rússia em 2018. Há fatores extracampo que também são cada vez mais questionados.

Na noite da última terça-feira, enquanto a Seleção sofria no Defensores Del Chaco contra o Paraguai, não foram poucas as mensagens que chegaram aos dois presidentes da CBF (o licenciado, Marco Polo Del Nero, e o interino, Antonio Carlos Nunes) sugerindo a demissão de Dunga e Gilmar.

A campanha foi parcialmente abortada pelo gol de Daniel Alves nos minutos finais da partida, que impediu a derrota e evitou que a seleção caísse para sétimo lugar nas eliminatórias. Mas os ataques voltaram com força dobrada na quarta-feira.

– Fomos todos dormir aliviados, mas acordamos em sexto lugar. Estamos fora da Copa. A ficha caiu – disse ao GloboEsporte.com um dos maiores defensores da troca de comando na seleção brasileira.

Na avaliação dos que querem derrubar Dunga, houve algo pior que os resultados: a falta de um padrão de jogo. As convocações não são questionadas – até porque Thiago Silva, por exemplo, tem péssima imagem diante dos dirigentes. Mas algumas escalações começam a gerar críticas, e há uma visão de que Dunga está perdendo a confiança dos atletas.

A Seleção tem dois torneios pela frente. A Copa América Centenário, em junho nos Estados Unidos, e as Olimpíadas em agosto, no Brasil. A prioridade da CBF está bem clara: os Jogos do Rio. Daí o plano de contratar outro técnico para o torneio olímpico, deixando Dunga e Gilmar com a Copa América. Depois, a ver.

O mau futebol também serve de instrumento de campanha para uma ala da CBF que julga haver muito poder concentrado nas mãos de Gilmar Rinaldi. O coordenador de seleções sabe que há uma articulação para minar seu trabalho, avalia que Dunga e ele “estão incomodando muitas pessoas”, mas ainda não descobriu contra quem está brigando.

Mesmo assim, ele faz o possível para blindar Dunga. Diante de qualquer boato ou notícia negativa, é ele quem surge para dar explicações e frisar que decisões estruturais e de logística são dele, Gilmar Rinaldi.

Mesmo licenciado, Marco Polo é quem deve definir a situação de Dunga e Gilmar (Foto: Alan Lima / MoWA Press)
Mesmo licenciado, Marco Polo é quem deve definir a situação de Dunga e Gilmar (Foto: Alan Lima / MoWA Press)

Durante as viagens para os últimos jogos, a comissão ficou incomodada com a publicação de algumas notícias. Uma delas: o fato de ter hospedado a seleção num hotel em Viamão (RS), cujo sócio é o ex-zagueiro Lúcio, auxiliar pontual de Dunga nos últimos jogos.

Segundo o Gilmar, tudo não passou de uma grande coincidência. Alega o coordenador que o hotel foi escolhido meses antes de Lúcio ter sido escalado como auxiliar nas das partidas. Também não caiu bem na cúpula da CBF o “telefone sem fio” entre Dunga e o médico Rodrigo Lasmar no “caso Marcelo”.

Marcelo ficou fora da última convocação por justificativa médica, mas voltou a jogar pelo Real Madrid antes de a Seleção se reunir. Zinedine Zidane, técnico do clube espanhol, negou que o Real tenha vetado o lateral-esquerdo.

Dunga disse que o Lasmar, médico da seleção, mostraria mensagens de celular trocadas com o Real Madrid. Confrontado, Lasmar não mostrou mensagem nenhuma. O médico explicou que na véspera da convocação ligou para Marcelo e ouviu que ele não era relacionado há duas partidas por uma lesão na panturrilha, mas que havia a previsão de voltar nos próximos dias. Foi com esse diagnóstico em mãos que Dunga decidiu não chamá-lo.

O distanciamento de dirigentes de maior poder, uma tendência desde que as investigações do FBI atingiram a cúpula da CBF, com Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero indiciados, colabora para a exposição da dupla Dunga e Gilmar. O Coronel Nunes, presidente interino, até viaja, mas não dá as caras. E as decisões caem sobre os ombros do coordenador de seleções.

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