Exposição mostra vida de mulheres nas pedreiras da Chapada Diamantina

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Elas vivem exclusivamente da própria produção, trabalham de sol a sol para ganhar R$55 por cada mil paralelepípedos feitos. Durante o dia se vestem de trapos para fugir das lascas de pedras que podem rasgar a carne. Longe de se sentirem exploradas, elas se mostram dignas, altivas e não esquecem das vaidades femininas. O cotidiano dessas Mulheres de Pedra é revelado na exposição do jornalista, publicitário e escritor Alexandre Augusto que, durante um ano, percorreu a Chapada Diamantina, especificamente nos municípios de Itatim e Itaetê, retratando a vida nas pedreiras.

A exposição de fotografias Mulheres de Pedra será aberta, no Teatro Gregório de Mattos, no dia 24 de maio, às 19 horas, para convidados, e 25 para o público. Aberta e gratuita, quem tiver a oportunidade de apreciar as 21 fotos coloridas e impressas em pigmento mineral sobre Canson Platine terá mais que a possibilidade de ver uma reportagem contada com imagens, mas uma experiência sensorial, onde os sons das ferramentas batendo nas pedras, a água correndo e um fundo musical suave encontra o cenário perfeito montada com pedras reais e iluminação específica para transportar o visitante para as pedreiras , além da leitura de um poema de Cora Coralina, liberada pela filha da poetisa e lida por uma das mulheres de pedra.

“Quando comecei a fotografar aquela realidade, meu primeiro sentimento foi achar aquilo tudo uma exploração. Foi quando uma das senhoras mais velhas da pedreira me disse: ‘Moço, meu pai foi cortador de pedras e eu faço isso desde menina. Agradeço a Deus todos os dias pela pedra. Foi com a pedra que criei meus filhos. É com a pedra que hoje eles criam meus netos’”, diz Alexandre, lembrando que se sentiu obrigado a contar aquela história sem clichês, enfatizando a dignidade daquelas pessoas que sobrevivem do trabalho pesado, numa região que pouco chove.

Pedra Verdadeira

Ele lembra que o que sua fonte de inspiração foi um quadro do artista plástico mexicano Diego Rivera, chamado Stone Worker, de 1943. “Pesquisando, descobri que com toda a tecnologia existente hoje, o processo de produção permanece artesanal nas pedreiras: enormes montes de pedra são fracionadas com explosivos, esses pedaços são entregues aos trabalhadores que os lapidam para transformar em paralelepípedos ou britas”, conta o fotógrafo. Ele faz questão de destacar que na Bahia existem mais de 30 cidades que são denominadas com nomes tupis que remetem à pedra: Itatim, Itaparica, Itaberaba, Itacimirim, Itacaré. “Para mim, o nome mais bonito é Itaetê. Adoro a sonoridade e principalmente o significado: Pedra Verdadeira”, pontua.

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O projeto começava a se desenhar e os primeiros registros foram numa pedreira em Itatim, cidade a 300 quilômetros de Salvador. “Pensei que iria encontrar apenas homens naquela atividade brutal de transformar rochas gigantes em pequenos paralelepípedos. Vi, no entanto, dezenas de mulheres com camisas enroladas nos rostos e talhadeiras nas mãos. Esculpindo a rocha bruta que lhes eram entregues pelos homens”, conta, destacando que além de trabalharem de sol a sol para botar comida na mesa, elas ainda cuidam das casas, maridos e filhos. “Amo o gênero reportagem e essa exposição é uma grande reportagem sobre essas mães, esposas e filhas, mulheres de pedra tanto no sentido mais literal quanto no mais poético”, completa.

Força feminina

Mulheres de Pedra é o primeiro projeto como fotógrafo profissional desse baiano de Feira de Santana, que traz em seu currículo a biografia do sambista Moreira da Silva (O Último dos Malandros, Record, 1996), além de ter produzido uma série de reportagens durante os cinco anos que viveu em Angola. A fotografia era uma paixão antiga, desse a faculdade, mas o interesse cresceu durante os anos que morou em Londres, onde aprofundou a formação na área. Admirador de Pierre Verger e Sebastião Salgado, prefere não rotular seu estilo, afirmando que o mais importante é saber contar histórias.

A exposição Mulheres de Pedra é dedicada à avó de Alexandre. “A mulher mais forte que conheci. Sertaneja que morou numa colônia rural do Incra, na cidade de Santa Brígida, nos anos 60. Teve de ficar quase uma década morando longe dos filhos”, completa ressaltando que a lembrança da senhora o acompanhou durante todo o projeto. “As mulheres têm importância extrema na minha vida. Além da minha avó, tenho o exemplo da minha mãe. Viúva que criou os cinco filhos sozinha. É mais uma mulher de pedra na minha vida”. O texto de apresentação da mostra ficou a cargo da jornalista e atual curadora da Flip (Festa Literária de Paraty), Joselia Aguiar.

SERVIÇO

O QUÊ: Exposição Mulheres de Pedra, de Alexandre Augusto

ONDE: Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves – Centro)

QUANDO: Abertura dia 24/5, às 19h, para convidados. Visitação de terça a domingo, das 14 às 19 horas. Até 30/7.

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Jacobina Noticias