Bahia é o estado com maior aumento da desigualdade salarial no país, diz IBGE
Rendimento de trabalho aumenta mais para homens, brancos e idosos
Talvez você não se recorde da canção Xibom Bombom, lançada em 1999 pela banda As Meninas, que foi sucesso no Brasil inteiro. O trecho ‘onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre. E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o de baixo desce’ pode resumir a situação salarial da Bahia. O estado foi o que mais cresceu no Brasil na desigualdade nos salários entre 2016 e 2017, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IBGE explica que esse crescimento foi provocado pelo forte aumento verificado nos rendimentos dos que ganham mais. O movimento foi em sentido contrário ao do país como um todo – onde a distância entre os que ganham mais e os que ganham menos se manteve relativamente estável no período, com uma pequena redução.
De um ano para o outro, o salário médio real (descontada a inflação) da metade dos trabalhadores que ganhavam menos na Bahia caiu de R$ 472 para R$ 444 (-5,9%), enquanto o rendimento médio de trabalho dos 10% de trabalhadores com maiores salários aumentou 31,7%, passando de R$ 5.946 para R$ 7.833.
A redução do salário médio da metade dos trabalhadores baianos que ganhavam menos (-5,9%) foi a 4ª maior entre os 27 estados brasileiros (-5,9%) e mais profunda que a média do país (-2,5%, de R$ 773 para R$ 754). No outro extremo, o aumento dos que já ganhavam mais no estado (+31,7%) foi o maior do país, onde, em média, os 10% de trabalhadores com maiores salários também tiveram uma queda no rendimento (-3,0%, de R$ 9.526 para R$ 9.242).
Assim, de 2016 para 2017, na Bahia, a distância entre o 10% de trabalhadores com os maiores rendimentos e a metade dos trabalhadores com menores rendimentos teve o maior aumento do país: cresceu 40%, enquanto, na média nacional, houve uma relativa estabilidade marcada por uma pequena redução de -0,50%.
Em 2017, na Bahia, os 10% de trabalhadores com maiores rendimentos ganhavam, em média, 18 vezes o salário da metade dos trabalhadores que ganhavam menos. Essa diferença havia sido de 13 vezes em 2016. No país como um todo, a distância permaneceu em 12 vezes de um ano para o outro.
Rendimento
Com aumento entre os que ganham mais, Bahia tem maior crescimento no rendimento de trabalho do país entre 2016 e 2017. O incremento no rendimento de trabalho dos que já ganhavam mais, entre 2016 e 2017, levou a um aumento de 13,1% no rendimento médio mensal efetivamente recebido pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade que trabalhavam, na Bahia: de R$ 1.397 para R$ 1.508. Foi o maior aumento percentual entre os estados, empatado com o verificado na Paraíba.
No país como um todo, o rendimento médio de trabalho efetivamente recebido caiu 2%, de R$ 2.223 para R$ 2.178. Dentre os estados, as maiores quedas ocorreram no Rio Grande do Norte (- 12,5%), em Sergipe (-9,9%) e Pernambuco (-9,9%). Entretanto, esse aumento salarial (+13,1%) na Bahia foi fortemente concentrado nos 10% de trabalhadores que ganhavam mais (+31,7%), enquanto os 90% restantes tiveram queda média de 0,9% nos seus rendimentos (de R$ 892 para R$ 884).
Embora tenha aumentado, o salário médio na Bahia, em 2017 (R$ 1.508), além de continuar abaixo da média do país (R$ 2.178), era o 8º mais baixo entre os estados – em 2016, o estado tinha o 4º menor rendimento médio de trabalho do país. No ano passado, Distrito Federal (R$ 4.065), São Paulo (R$ 2.820) e Rio Grande do Sul (R$ 2.404) tinham os maiores salários médios do país, sendo que o Rio Grande do Sul superou o Rio de Janeiro, 3º maior rendimento em 2016 e 6ª posição em 2017.
Além de concentrado nas fatias da população que já tinham os maiores salários, o aumento do rendimento efetivamente recebido por todos os trabalhos, entre 2016 e 2017, na Bahia, foi maior para os homens (+17,2%) do que para as mulheres (+6,2%); para os brancos (+38,7%) do que para os pardos (+5,7%) e pretos (-1,6%); e para as pessoas de 60 anos ou mais (idosos) que ainda trabalhavam (+46,9%) do que para as demais faixas etárias tradicionalmente associadas ao mercado de trabalho, como pessoas entre 25 e 29 anos (+21,2%), 30 a 39 anos (+9,2%) e 40 a 49 anos (+17,5%).
Estado passa a líder no ranking de desigualdade salarial, segundo o Índice de Gini
O aumento da desigualdade nos rendimentos de trabalho na Bahia, entre 2016 e 2017, é retratado também pelo Índice de Gini, que vai de 0 a 1 e mede a desigualdade numa distribuição qualquer, sendo mais desigual quanto mais próximo de 1.
No ano passado, o estado teve o maior Índice de Gini (ou a maior desigualdade) do país para os rendimentos de trabalho efetivamente recebidos: 0,599, com um aumento frente a 2016 (quando havia sido de 0,537) e acima da média nacional, que foi de 0,524 em 2017 e 0,525 em 2016 – ou seja, manteve-se estável com uma leve tendência de queda.
Essa pequena variação para baixo no Índice de Gini nacional foi resultado do movimento da região Sudeste, onde houve uma redução da desigualdade nos rendimentos de trabalho, e o Gini foi de 0,520 em 2016, para 0,510 em 2017. Nas demais regiões, o índice variou para cima. Os estados com menores desigualdades entre os rendimentos de trabalho, em 2017, foram Santa Catarina (0,408), Rondônia (0,438) e Mato Grosso (0,446).
Mesmo com aumento de 7,6% (de R$ 803 para R$ 864), rendimento domiciliar per capita na Bahia não chega ao salário mínimo em 2017. O aumento nos rendimentos de trabalho na Bahia foi o principal responsável pelo crescimento de 7,6% no rendimento mensal real domiciliar per capita no estado (soma de todos os rendimentos do domicílio dividida pelo total de pessoas que moram nele), que passou de R$ 803 em 2016 para R$
864 em 2017.
Foi o quarto maior aumento no rendimento domiciliar per capita entre os estados, bem acima da média nacional (-1,1%, de R$ 1.285 para 1.271). Mas, mesmo com essa variação positiva, no ano passado, o rendimento domiciliar per capita na Bahia ainda estava 32,0% abaixo da média do país, era menor que o salário mínimo no ano (R$ 937) e ficava em 17º lugar entre os 27 estados (em 2016, havia sido o 20º).
O rendimento de trabalho representava quase 70% do rendimento domiciliar per capita na Bahia (69,5%), menos do que a média nacional (73,8%), mas teve um aumento de participação em relação a 2016 (67,5%). Por outro lado, os rendimentos de outras fontes (aposentadoria e pensão; aluguel e arrendamento; pensão alimentícia; doação e mesada de não morador; e outros rendimentos, que incluem programas sociais e investimentos como poupança e ações) reduziram um pouco sua participação no rendimento domiciliar per capita dos baianos: de 32,5% para 30,5%.
Tanto no Brasil quanto na Bahia, dentre os rendimentos de outras fontes, que não o trabalho, o mais importante é o de aposentadorias e pensões, que representa cerca de 1/5 do rendimento médio domiciliar per capita tanto no país (19,4%) quanto no estado (20,5%).
Em seguida vêm os chamados outros rendimentos, que representam 6,3% do rendimento domiciliar per capita na Bahia – quase o dobro da média nacional (3,3%) e a terceira maior participação do país, abaixo apenas de Maranhão (8,0%) e Alagoas (6,6%). Em 2017, Bahia passa a ter a 3ª maior desigualdade no rendimento domiciliar per capita.
Assim como ocorreu com o rendimento de trabalho, a Bahia também teve um dos maiores crescimentos na desigualdade da renda domiciliar per capita, entre 2016 e 2017, no país. Isso porque o aumento desse rendimento se concentrou fortemente nas residências que já tinham as maiores rendas, caindo naquelas com menores rendas.
Renda
Nos 10% de domicílios com maiores rendimentos no estado, a renda per capita aumentou 21,2%, passando de R$ 3.485 em 2016 para R$ 4.225 em 2017; em quase todas as demais faixas de rendimento, houve recuos. Assim, em 2017, a renda por morador nas residências com 10% maiores rendimentos (R$ 4.225) era 19 vezes aquela da metade dos domicílios com menores rendimentos (R$ 224, 8,2% menor que a de 2016, R$ 244). Em 2016, a distância entre os 10% de domicílios com maior rendimentos per capita e a metade das residência com menores rendimentos per capita era de 14 vezes – ou seja, em um ano, essa diferença cresceu 32,1%.
Foi o maior crescimento na desigualdade do rendimento domiciliar per capita do país. Em média, no Brasil os rendimentos dos 10% de domicílios com maior renda eram 14 vezes os da metade dos domicílios com menor renda e permaneceu estável entre 2016 e 2017.
Na Bahia, em 2017, os 10% da população com maiores rendas domiciliares per capita detinham quase metade (48,9%) da massa de rendimento médio mensal domiciliar per capita do estado (soma de todos esse rendimentos), que era de R$ 13,231 bilhões. Por outro lado, a metade dos baianos com menores rendas per capita se apropriavam de pouco mais de 10% da massa desse rendimento (13,0%).
Em 2016, os percentuais de apropriação da massa de rendimento domiciliar per capita eram, respectivamente de 43,4% para os 10% com maiores rendimentos e de 15,2% para a metade da população com menores rendas domiciliares per capita.
O aumento da desigualdade no rendimento domiciliar per capita também se evidencia no Índice de Gini, que, na Bahia, teve o maior aumento do país entre 2016 e 2017, passando de 0,548 para 0,599, enquanto, no Brasil como um todo, manteve-se estável em 0,549.
O maior do Índice de Gini na Bahia fez o estado passar do 9º para o 3º lugar no ranking nacional de desigualdade de renda domiciliar per capita, abaixo apenas de Amazonas (0,604) e Distrito Federal (0,602). Os estados menos desiguais no que diz respeito à renda domiciliar são Santa Catarina (0,421), Rondônia (0,455) e Mato Grosso (0,469).
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