Postos de combustíveis cortam vagas e demitem 600 funcionários na Bahia

Carga tributária e queda nas vendas afetam setor no estado

Alegando problemas com  a carga tributária e a redução nas vendas de gasolina e diesel, donos de postos de combustíveis da Bahia demitiram, no primeiro semestre deste ano, cerca de 600 funcionários. Desse total, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia (Sinposba), pelo menos  200 dispensas ocorreram nos últimos 60 dias na rede  Menor Preço, que possui unidades  em várias cidades do interior e tem  sede em Feira de Santana.

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O CORREIO tentou, diversas vezes, contato com a direção da rede Menor Preço, ontem, mas não obteve retorno. Gerentes de postos de Feira de Santana disseram que não poderiam comentar as demissões. Nos postos da bandeira em Salvador, o clima é de  apreensão. “Estamos inseguros com essas demissões. Eu tenho medo porque sou pai de uma menina de 8 meses e não posso ficar desempregado”, disse Eduardo Santana, 25, frentista do Posto Menor Preço do CIA.

No posto BR em Águas Claras, a última demissão foi há dois  meses, quando dois funcionários perderam o emprego. E, além das demissões, outro problema que preocupa o frentista Valdir Mathias, 43, é a falta de segurança. “Por enquanto, eu ainda não pensei nas demissões, mas precisamos trabalhar com mais segurança”, afirmou.

No posto Shell de Simões Filho, o clima é de mais tranquilidade. O  chefe de pista Claudécio Caldas informou que, em vez de demitir, o posto  contratou. “Sou chefe de pista há quatro  meses. Me sinto seguro aqui e não fiquei sabendo de demissões. Aqui a  empresa tem contratado cada vez mais e eu sou um exemplo disso”.

Dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostram que foram comercializados na Bahia, no primeiro semestre deste ano, 3,365 bilhões de litros de combustíveis (etanol, gasolina de veículos terrestre e de aviação, GLP, óleo combustível, óleo diesel, querosene de aviação e querosene iluminante), numa queda de  2% em relação a igual período de 2017.

A maior preocupação dos cerca de 2.700 postos do estado, representados pelo Sindicombustíveis, é com relação a queda nas vendas de gasolina (redução de 10% no primeiro semestre) e óleo diesel (-0,40%). Também reclamam da carga tributária. Na Bahia, os tributos federais (PIS/Cofins mais a Cide) e estadual (ICMS) fazem a gasolina ficar mais cara  R$ 1,92 por litro, de acordo com a da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes. Os mesmos impostos fazem o diesel mais caro em R$ 0,93, e o etanol, tirando a Cide, em R$ 0,94.

“Precisamos reduzir a carga tributária, do jeito que está a tendência é que ocorram  mais demissões. A queda do volume comercializado foi muito grande. O que puder reduzir de impostos é um ganho para a sociedade”, disse o presidente do Sindicombustiveis,   Walter Tanus.

Para o presidente do Sinposba, Antonio do Lago, outro motivo das demissões é a nova lei trabalhista. “Muitos  postos estão demitindo e não estão pagando os direitos dos trabalhadores. Estou  levando esses casos para o Ministério Público do Trabalho”, diz.

Etanol ganha espaço no mercado baiano
Na Bahia, com a alta do  preço da gasolina, os consumidores têm recorrido cada vez mais ao  etanol. O produto feito da cana-de-açúcar teve uma  alta nas vendas de 78,7% no estado entre janeiro e junho de 2018, em comparação com o primeiro semestre de 2017. Foram 109,9 milhões de litros comercializados ano passado e 196 milhões este ano.

E o preço médio do produto, ainda segundo a ANP, caiu de R$ 3,52, registrado entre 3 e 9 de junho, para
R$ 3,50 no período de 5 a 11 de agosto. Já o preço da gasolina, neste mesmo período, passou de  R$ 4,64 para R$ 4,67. “As pessoas têm optado pelo álcool só por ser mais barato, não por ser mais rentável para o carro, em relação a gasolina”, declarou Walter Tanus.

Nova alta  
E a gasoina pode pesar ainda mais no bolso do consumidor a partir de amanhã. É que o preço de pauta sobre o qual é calculado o ICMS dos combustíveis terá aumento na Bahia. A   gasolina comum passará de R$ 4,540 para R$ 4,680. De acordo com o Sindicombustíveis, este reajuste na carga tributária vai refletir no aumento do custo de aquisição do produto e pode impactar no preço do combustível na bomba. “O aumento do preço de pauta do ICMS para a gasolina, além de poder impactar no bolso do consumidor, vai acentuar ainda mais a situação de crise dos revendedores baianos, que vêm sentindo a redução nas vendas de combustíveis e demitindo”, comentou Walter Tannus.

O setor de combustíveis é responsável por 24% da arrecadação de ICMS do estado da Bahia e os percentuais da alíquota do tributo são de 28% para a gasolina, 19% sobre o etanol e 18% para o óleo diesel.

Somente o ICMS representará no custo da gasolina R$ 1,3104 por litro. Tannus ressalta que os tributos estaduais e federais representam em torno de 50% do preço dos combustíveis, incidindo ainda no preço na refinaria, transporte, preço do álcool anidro, estrutura física, segurança e mão de obra.

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