Incêndio ameaça as nascentes do Rio de Contas na Chapada Diamantina; vídeo
Área da Serra do Tomba fica próxima às nascentes do rio
As nascentes do Rio de Contas, que passa por 14 cidades da Bahia até desaguar no mar, em Itacaré, no Sul do Estado, estão ameaçadas por um incêndio que atinge há três dias a Serra do Tromba, no município de Piatã, na Chapada Diamantina, na Bahia.
As chamas tiveram início no pé da serra e depois se espalharam, auxiliadas pelo tempo seco, altas temperaturas (em torno de 38ºC), baixa umidade e ventos fortes. As nascentes, segundo as informações mais recentes, não foram atingidas pelo fogo, que está sendo combatido com o auxílio de um helicóptero do Grupamento Aéreo (Graer) da Polícia Militar, já que não é possível o acesso por via terrestre.
Até o início da noite desta terça-feira (11), cerca de 50 brigadistas voluntários e homens do Corpo de Bombeiros continuavam o trabalho de combate ao incêndio florestal.
De responsabilidade do Estado da Bahia, o local é chamado de Área de Relevante Interesse Estadual Nascente do Rio das Contas, e tem 4.777 hectares, entre as cidades de Piatã e Abaíra. De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), ainda não se sabe o tamanho da área atingida pelo fogo e nem o dano causado à fauna e à flora.
A aeronave do Graer atua no transporte dos combatentes (voluntários e do Corpo de Bombeiros), equipamentos, ferramentas e logística necessária, e realiza combate direto através da utilização do bambi-bucket, uma espécie de bolsa para lançamento de água no combate aéreo a incêndios.
“O helicóptero é imprescindível para a atuação dos brigadistas voluntários da Brigada Voluntária Altitude Ambiental, e dos militares do Corpo de Bombeiros da Bahia. A Brigada relatou a dificuldade de acesso e a complexidade do incêndio, que iniciou na base da serra e subiu com velocidade”, diz um comunicado oficial da Sema.
As causas do incêndio ainda serão investigadas. “Estamos monitorando a situação junto ao Corpo de Bombeiros e equipe do Inema [órgão ambiental estadual] para garantir ações estratégicas rápidas que minimizem danos ambientais. Chamamos a atenção para cuidados de prevenção aos incêndios florestais que se acentuam a partir dos próximos meses”, completa o comunicado da Sema.
Áreas de risco
A Chapada Diamantina, assim como as áreas do Cerrado, no Oeste, e a de Caatinga, está entre as principais áreas de risco para incêndios nessa época do ano na Bahia, assim como ocorre para biomas semelhantes em outros estados do Brasil, devido ao clima seco e a baixa umidade.
“Nesta época do ano, a única área que está com menos risco de fogo é no sul da Bahia, devido ao clima mais úmido da Mata Atlântica”, informa o pesquisador Washington Franca, especialista em geotecnologias da ONG Observatório do Clima, segundo qual a Bahia perdeu quase 4 milhões de hectares de áreas de florestas entre 1985 e 2017, ano em que foram registrados 26,7 milhões de hectares com florestas nativas.
No Norte do Estado, um incêndio que tem previsão de ser totalmente controlado até o final de semana queimou uma área equivalente a mais de 3 mil campos de futebol no Parque Nacional Boqueirão da Onça, criado em abril pelo Governo Federal. O fogo durou 12 dias e matou mamíferos, como cotia e mocó, e diversas serpentes, além da vegetação nativa.
Para o local, foram enviados 77 brigadistas ligados ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e ao PrevFogo, unidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) responsável por combate e prevenção a incêndios florestais em unidades nacionais.
Com o controle maior sobre o fogo, as equipes, que são da Bahia, Tocantins, Pernambuco, Rio de Janeiro e Distrito Federal, começaram nesta terça a serem desmobilizadas. Dois dos quatro helicópteros que estavam na área também já deixaram a região.
“Quinze brigadistas que vieram da Chapada Diamantina já foram dispensados e amanhã [quarta (12)] vamos desmobilizar mais ainda. Estamos apenas monitorando alguns focos para que eles não voltem a queimar a área”, declarou a analista ambiental do ICMBio Camile Lugarini, chefe do parque nacional.
O Parque Nacional Boqueirão da Onça, com 851 hectares, é dividido em duas áreas: uma unidade de conservação permanente, de 345.378 hectares, e uma Área de Proteção Ambiental (APA), de 505.680 hectares. O parque abrange as cidades de Sento Sé, Campo Formoso, Sobradinho, Juazeiro e Umburanas.
A área atingida pelo fogo fica quase em sua integridade na região da cidade de Sento Sé, ao oeste do parque. Em toda a unidade ambiental, estima-se que haja pouco mais de 30 onças pintadas e cerca de 200 onças pardas. A flora nativa apresenta grande diversidade – recentemente, 97 novas espécies foram catalogadas.
“Tivemos uma ação rápida que resultou em controle do fogo em pouco tempo. Isso é importante para conseguirmos preservar a maior quantidade possível de mata nativa. Acreditamos que o fogo será cessado de vez nos próximos dias”, declarou Ana Virgínia Vieira de Melo, coordenadora do PrevFogo em Pernambuco e que coordenou as ações de combate ao incêndio na área do Boqueirão da Onça.
Prevenção
Na Bahia, onde há 617,36 mil hectares de unidades nacionais de conservação ambiental, além de outras áreas de floresta que o Governo Federal é responsável por prevenir e combater incêndios, como assentamentos rurais e reservas indígenas, há brigadistas voluntários (sem número certo) e contratados temporariamente (por seis meses) para ficarem de prontidão nas épocas mais críticas.
Atualmente, no estado, há brigadistas do PrevFogo em Itaetê (29), Barreiras (29), Serra do Ramalho (15) e outros 15 na Chapada Diamantina, onde estão mais 35 do ICMBio, que possui ainda brigadistas em Boa Nova (6), Porto Seguro (6) e Prado (12).
Os incêndios também estão entre as preocupações de empresas privadas de energia eólica que atuam na região Sudoeste. A AES Tietê, por exemplo, emitiu comunicado alertando as populações de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí, onde funciona o Complexo Eólico Alto Sertão II, sobre os ricos de queimada na região.
“O risco do incêndio é de atingir as torres eólicas e/ou as linhas de transmissão internas de energia para as subestações do complexo, comprometendo a geração de energia, ou mesmo atingindo às casas nas proximidades”, comenta o gerente de Gestão de Ativos Eólicos da AES Tietê Paulo Milton.
Segundo o executivo, a empresa auxilia na prevenção dos incêndios com campanhas educativas de conscientização sobre o meio ambiente. “Nos municípios de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí distribuiremos para a população panfletos informativos sobre como prevenir as queimadas”, diz ele.
“Também contribuímos para o monitoramento das áreas do complexo para comunicarmos imediatamente às autoridades competentes, a qualquer indício de incêndio. Para o futuro, existe a proposta da criação de uma brigada de incêndio contratada pela empresa”, completa Milton, segundo o qual nunca foi registrado na área da empresa incêndio de grandes proporções.
Outros parques nacionais da Bahia:
Floresta Nacional de Cristópolis
Bioma: Cerrado
Área: 12.840,69 hectares
Refúgio de Vida Silvestre das Veredas do Oeste Baiano
Bioma: Cerrado
Área: 128.048,99 hectares
Parque Nacional Grande Sertão Veredas (MG e BA)
Bioma: Cerrado
Área 83.264 hectares
Parque Nacional da Chapada Diamantina
Bioma: Caatinga
Área: 152.141,87 hectares
Floresta Nacional Contendas do Sincorá
Bioma: Caatinga
Área: 11.215,78 hectares
Refúgio de Vida Silvestre de Boa Nova
Bioma: Mata Atlântica
Área: 15.023,86 hectares
Parque Nacional da Serra das Lontras
Bioma: Mata Atlântica
Área: 11.343,84 hectares
Reserva Biológica de Una
Bioma: Mata Atlântica
Área: 18.715,06 hectares
Parque Nacional do Pau Brasil
Bioma: Mata Atlântica
Área: 18.935,55 hectares
Parque Nacional do Alto Cariri
Bioma: Mata Atlântica
Área: 19.238,02 hectares
Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal
Bioma: Mata Atlântica
Área: 22.240,67 hectares
Parque Nacional do Descobrimento
Bioma: Mata Atlântica
Área: 22.693,97 hectares
Reserva Extrativista de Cassurubá
Bioma: Marinho Costeiro
Área: 100.767,56 hectares
Revis Rio dos Frades
Bioma: Mata Atlântica
Área: 898,67 hectares
.