BRASIL: O passado sombrio do ‘traficante-pastor’: roubos, execuções e fugas

Preso durante culto, ele já pegou 29 anos por matar bombeiro em assalto a hotel 

Liderança religiosa em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, e chefe de quadrilha de traficantes em Limoeiro, no Agreste de Pernambuco. Para quem acha que essas eram as duas únicas faces de Alexandre Mendonça da Silva Filho, 33 anos, preso no último sábado (29) durante um culto religioso, é porque desconhece outros detalhes do seu passado, que incluem ao menos três homicídios.

csm_alexandre_traficante_pastor_pernambuco_lauro_de_freitas_foto_divulgacao_ssp_20c3d5cbc5Alexandre em Limoeiro (PE), para onde foi encaminhado após ser preso na Bahia
(Foto: Divulgação/SSP-BA)

Uma das vítimas foi um bombeiro, assassinado em 2006. A morte rendeu a Alexandre – que na Bahia era diácono (espécie de ajudante de pastor) na Igreja Batista Poço de Jacó –, condenação para quase 30 anos de prisão, não cumpridos após uma fuga da cadeia.

O CORREIO foi em busca das histórias por detrás dos crimes que transformaram Alexandre em um dos ‘alvos prioritários’ da polícia pernambucana, acusado de liderar uma quadrilha de traficantes, ladrões e homicidas em Limoeiro, e preso por policiais civis baianos do Departamento de Repressão a Crimes Organizados (Draco), em cumprimento aos três mandados de prisão que estavam pendentes em nome dele em Pernambuco – todos por homicídio qualificado.

Descobrimos que, além da venda de drogas, ele atuou em diversos roubos a hotéis em Pernambuco, e é suspeito de participação em uma série de homicídios. Condenado, escapou da cadeia em 2012, quando, provavelmente, decidiu se mudar para a Bahia.

O início
Tudo começou em 4 de outubro de 2006, quando Alexandre foi detido pela primeira vez, acusado de diversos assaltos praticados em hotéis e estabelecimentos comerciais de Pernambuco.

De acordo com a polícia, numa das ocasiões, ele estava acompanhado de cinco comparsas, sendo um adolescente de 16 anos, e foi “encontrado por policiais civis em um dos quartos do Hotel Cartier (em Recife), após uma noite de farra, que seria paga com dinheiro de um dos crimes praticados pelo grupo”.

Dos seis integrantes, o menor foi apreendido e dois, entre eles o pastor, presos. Já na delegacia, eles confessaram os crimes, todos praticados com uso de arma de fogo, que ficava escondida na casa do menor de idade. No entanto, além da acusação de associação criminosa, foi aberto um processo para investigar a participação do grupo na morte de um bombeiro, identificado como Ostevaldo Pereira Alves.

Condenação
Segundo acusação, em 13 de julho daquele mesmo ano, às 22h, durante ação em um dos hotéis da região, após roubarem os pertences dos hóspedes e dinheiro do estabelecimento, o grupo disparou duas vezes contra o bombeiro, que acabou morrendo.

Se a primeira investigação resultou na condenação a 2 anos de prisão em regime aberto para Alexandre, essa segunda decisão, já com a certeza da responsabilidade dele pela morte de Ostevaldo, rendeu condenação de 29 anos e 4 meses de reclusão.

O que a Justiça não esperava é que, em 29 de fevereiro de 2012, quando já cumpria a pena em regime semiaberto, Alexandre fugisse da Penitenciária Agro-Industrial São João, em Itamaracá (PE). Foi a partir desta data que novos crimes começaram a ser cometidos por ele.

Homicídios qualificados
O primeiro deles aconteceu enquanto o acusado ainda retornava para passar as noites na prisão, em 17 de janeiro de 2012. A vítima, identificada como Valdeci João dos Santos Júnior, foi assassinada por volta das 11h, em via pública. Segundo a denúncia, a qual o CORREIO teve acesso na íntegra, além de Alexandre, outros três homens foram apontados como autores do crime.

O processo, aberto em 2013 e que trata de homicídio qualificado, em razão de motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, aponta que Valdeci foi morto a tiros por causa de dívidas com o tráfico de drogas – Alexandre foi apontado como um dos líderes de uma quadrilha pernambucana.

No entanto, o quase-pastor nunca apareceu para responder ao crime, porque já se encontrava foragido da Justiça. O processo foi, então arquivado para a denúncia que recaiu sobre ele, e vai ser reaberto agora, após a recaptura do suspeito.

Quase três meses depois do primeiro homicídio qualificado, Alexandre foi apontado como autor de outra morte, cometida nas mesmas condições da anterior. Segundo processo do Tribunal de Justiça de Pernambuco, em 4 de abril de 2012, o hoje diácono, com a ajuda de dois comparsas, assassinou Geovan da Silva Fernandes.

Ainda de acordo com a denúncia, “a vítima estava em uma via pública, na companhia do irmão e de um dos acusados, de posse da quantia de R$ 100, que seria utilizado para pagar metade da dívida que devia a Alexandre”.

O documento também aponta que o ‘traficante-pastor’ chegou no local do crime pilotando uma moto e um dos comparsas, que estava na garupa do veículo, efetuou os disparos contra Geovan.

Após a prisão de Alexandre, que aconteceu no último final de semana, em Lauro, o processo, que tinha sido arquivado para a denúncia contra o criminoso, foi reaberto na tarde dessa quarta-feira (3).

Execução em escola
O último homicídio qualificado atribuído a Alexandre foi, de acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco, cometido em 27 de maio de 2012, tendo como vítima Rodrigo Araújo da Silva. Segundo denúncia, o crime aconteceu dentro da Escola Jordão Emerenciano, em Recife, e também tem relação com dívidas de tráfico de drogas.

“A vítima estava sentada, na arquibancada da quadra poliesportiva, esperando para jogar uma partida juntamente com outros colegas, quando o acusado Alexandre, vulgo Veinho, chegou ao local de moto, na garupa do segundo acusado Felipe [Roberto Barbosa Alves], vulgo Rei. Alexandre desceu do veículo e efetuou disparos de arma de fogo contra a vítima, sem que ela pudesse exercer qualquer reação, em seguida tomando rumo ignorado na garupa da mesma moto”, diz trecho da denúncia da ação penal que tramita no TJ-PE.

O segundo acusado, Felipe, chegou a ser preso pelo crime, mas foi permitido que ele respondesse ao ato delituoso em liberdade provisória, a partir de 12 de junho de 2015. Com a prisão de Alexandre, antes dado como foragido da Justiça, o processo está aguardando decisão do juiz.

A partir de agora, a Justiça pernambucana vai dar continuidade à execução dos mandados de prisão contra o diácono da Igreja Batista Pentecostal Poço de Jacó, que foi algemado no altar, na frente da mulher e da filha, além dos fiéis. Alexandre seguirá preso e, de acordo com nota da Polícia Civil de Pernambuco, enviada ao CORREIO, “o caso está sob os cuidados da Delegacia de Limoeiro”.

*Com supervisão do editor João Galdea.

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