‘Parecia filme de terror’, diz morador sobre ataque com dois mortos e seis baleados na Bahia
PM foi baleado horas antes, a 1 km do local
Foto: Evandro Veiga)
Familiares das vítimas e moradores da Vila Dois Irmãos, na Estrada das Barreiras, onde um atentado na madrugada desta quarta-feira (10) deixou dois mortos e seis baleados acreditam que o crime tenha relação com o confronto a 1 km do local, no bairro Tancredo Neves, onde um policial militar foi baleado e um traficante morto no final da manhã de terça-feira (9).
“Acreditamos que os policiais acharam que os homens estavam ali bebendo para comemorar o ataque ao policial. Mas não foi nada disso. Nós, moradores, costumamos sempre beber até altas horas”, conta um morador, que pediu para não ser identificado. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) informou que desconhece que haja qualquer relação entre os casos.
Durante o ataque, morreram Magno Leal Roma, 33 anos, conhecido como Magrão, e Jackson Vieira Santos, 36, que era conhecido como Pai. Magno tem passagem por tráfico de drogas, segundo informações da 11ª Delegacia (Tancredo Neves).
Já Heverton Souza Azevedo, 34, Tiago de Santana Sacramento, 30, Helder Luís Ribeiro Costa, 36, Sidney Batista da Silva, 28, Fábio Rocha da Conceição e João Paulo Oliveira Santana, todos baleados, foram encaminhados para o Hospital Geral do Estado (HGE) e o Hospital Roberto Santos.
Em contato com a reportagem, Sidney disse que teve alta pouco depois de dar entrada no hospital. Segundo a vítima, o ferimento foi superficial. Ele acrescentou que Tiago Santana e Helder, conhecidos dele, ainda passariam por cirúgia. Ao CORREIO, rapaz relatou o trauma vivido na madrugada. “Eu tô bem do ferimento, mas o susto fica. Sorte que em mim não pegou em cheio. Estou sentido por não ter ido ao enterro deles [Magno e Jackson]”, se limitou a dizer.
Magno foi enterrado no início da tarde de hoje, no Cemitério Campo Santo, na Federação. Enquanto Magno, foi sepultado esta tarde, Quinta dos Lázaros, no bairro da Baixa de Quintas.
Cena de terror
Ainda de acordo com o morador, ele estava próximo do local quando escutou pelo menos oito disparos efetuados por um homem que estava no banco de carona de um veículo de cor prata, de modelo não identificado. Com a arma em punho, o suspeito atirou contra as vítimas que tomavam cerveja ao redor de um isopor colocado em frente a outro estabelecimento comercial que estava fechado.
O dono do isopor era Magno, que morava em um sobrado, na companhia de irmãos, a menos de 100 metros de onde foi morto com um tiro no pescoço e outro na cabeça. O morador conta que a cena lembrava um filme de terror.
“Eram três homens que estavam no veículo. Um deles, com uma mão só, acertou todos os oito. Magno, que já havia sido preso, estava trabalhando, procurando melhorar na vida. Eu estava em casa quando escutei o barulho. Ao chegar no local, parecia filme de terror, para onde eu olhava tinha um corpo estendido. Todo mundo pedia socorro, mas como socorrer com a rua completamente deserta?”, lembra o morador.
Família diz que Magno já foi preso, mas há cinco anos não tinha mais envolvimento com o crime
(Foto: Reprodução/Nilson Marinho)
Magno costumava dividir o ponto com um outro amigo. A cada semana, um deles colocava o isopor onde eram comercalizadas as bebidas. A bebedeira entre os moradores costumava se estender até a madrugada.
Família
A pouco metros dali, uma irmã de Magno estava com a filha de pouco meses no colo quando escutou os disparos. Desesperada, ela foi até a janela e presenciou o irmão agonizando. Magno foi baleado enquanto estava sentando em uma cadeira de plástico.
“Quando coloquei minha cabeça para fora, vi meu irmão naquela situação. Foram muitos ‘pipocos’. Não sei precisar quantos. Mas foi uma cena horrível”, disse.
A mãe do vendedor também estava em casa quando o filho foi morto. Ela, que mora na cidade de Jiquiriça, no Recôncavo Sul, estava passando uns dias na casa dos filhos.
“Foi desesperador ver meu filho morto. Não teve nem tempo de correr. Morreu ali mesmo, sentado. Não fazia mal a ninguém e era um trabalhador, estava se reerguendo. Tiraram um pedaço de mim”,lamenta a dona de casa Cleuza de Jesus, 64.
Ela afirma que o filho tinha passagem pela polícia por roubo. De acordo com ela, Magno havia cumprido pena por roubo e estava há cerca de cinco anos em liberdade. Durante esse tempo, segundo ela, o vendedor montava seu isopor durante a noite e, à tarde, trabalhava como atendente em uma loja de roupas no bairro. Ela diz ainda que o filho não sabia sobre a ocorrência envolvendo o PM e, por isso, decidiu comercializar as bebidas.
Um dos irmãos do vendedor entrou em desespero ao ver Magno agonizando. Desesperado, ele quebrou algumas garrafas de vidro na rua para forçar que alguns carros parassem e prestassem socorro às vítimas.
Um morador, em um carro de passeio, acabou levando Magno até o Hospital Geral Roberto Santos, mas ele já estava sem vida. A família afirma que as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) demoraram cerca de uma hora para chegar ao local do crime.
Por meio da assessoria, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que em casos de tiroreios, atentados e outros casos de confronto o Samu só vai até o local após chegada da polícia. Segundo a pasta, para garantir a integridade física dos profissionais de saúde. A SMS disse, ainda, que não tem como informar o registro do horário exato da ocorrência, pois, a equipe que atendeu o caso era chefiada por outro médico – que já havia deixado o plantão.
No local do crime ainda havia poças de sangue na manhã desta quarta-feira (10)
(Foto: Evandro Veiga)
Segundo morto
A outra vítima fatal foi Jackson Vieira Santos, 36. Ele também era morador do bairro e trabalhava fazendo pequenos bicos. No dia do crime, havia ajudado um morador a retirar alguns entulhos.
Já à noite, conta um conhecido, Jackson resolveu sair de casa para beber. No bairro, ele era conhecido como “Pai”. “Um cara sossegado que só tinha vício em cachaça”, conta.
Na manhã desta quarta-feira (10), peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) na companhia de agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) trabalhavam no local por volta das 9h30 – os investigadores reuníram informações de testemunhas e familiares.
Uma das pessoas interrogadas foi o dono de um bar que fica em frente ao local do crime. No momento, o local ainda estava de portas abertas. O proprietário, sem se identificar, contou que os seus clientes entraram em desespero ao ver a situação e que correram pra o fundo do estabelecimento.
“Foi tão rápido que nem lembro quando tiros foram. Todos correram procurando se proteger e eu não tive a oportunidade nem de fechar as portas”, lembra.
A SSP-BA informa que o local é utilizado por traficantes para a venda de drogas. Destaca ainda que um dos feridos tinha mandado de prisão em aberto e fugiu após ser medicado.
*com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro
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