Mancha de óleo com mais de 21 km² está se aproximando da Bahia

Outra mancha de 3,3 km² segue na mesma direção

O surgimento de manchas de óleo no litoral do Nordeste está preocupando as autoridades, mas o cenário pode ficar ainda pior. Isso porque pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) localizaram duas novas manchas no mar, uma de 21,6 km² e outra de 3,3 km². Elas estão em alto mar, mas seguindo em direção a costa da Bahia.

csm_11102019GSO1_f3b910e4aeÓleo chega às praias do Litoral Norte da Bahia (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Segundo o professor da Ufba, Pablo Santos, as manchas estão a cerca de 100 km da costa, entre o Litoral Norte da Bahia e o Sul de Sergipe. Ele é especialista em sensoriamento remoto e contou que o petróleo cru foi identificado por um satélite da União Europeia, às 7h55 desta sexta-feira (11).

“Isso foi às 7h55. Ela já deve ter se deslocado. Como ela está em uma área onde há constância de nuvens não é possível monitorar com imagens de satélite de sensoriamento remoto passivo. É preciso que o satélite tenha radar porque o radar penetra na nuvem e chega até a superfície do oceano. É um radar da União Europeia, mas os dados são de uso comum”, afirmou.

Até esta sexta, seis praias de Salvador já registraram a presença de óleo e 20 kg foram retirados das areias pela Limpurb. O Ibama informou que vai averiguar se procede as informações levantadas pelo satélite, mas para o especialista não resta dúvida.

“No radar a mancha de óleo fica muito escura, porque o oceano tem uma rugosidade superficial relativamente elevada que fica clara na imagem de radar. O óleo quebra essa rugosidade superficial e fica mais escuro, um fenômeno chamado de espalhamento secular. Então, é bem característico de óleo”, explicou.

As informações levantadas foram repassadas para o grupo de pesquisa em oceanografia da Ufba do professor Guilherme Lessa. Doutor em ciências marinhas, ele contou que as manchas estão se deslocando para a costa da Bahia, mas que ainda não é possível dizer quando exatamente elas devem atingir as praias.

“Ela está a 100 km para fora da costa do estado de Sergipe, mas está dentro de um trajeto que é o mesmo que levou as manchas dos últimos dias para a costa. Dada as condições de circulação atmosférica e oceânicas no momento é muito provável que essa mancha se desloque em direção ao litoral da Bahia. Isso significa que os transtornos que nós estamos tendo agora ainda vão durar bastante tempo. Até que todo esse material toque a costa serão muitos dias de transtornos”, afirmou.

Os especialistas frisaram que apesar de juntas as manchas terem quase 25 km², a tendência é que ela se fragmente à medida que se aproximar da costa por conta da força dos ventos e das ondas.

Mancha no Litoral Norte
Nesta quinta (10), a Marinha do Brasil confirmou a chegada da mancha em Arembepe, no município de Camaçari. O óleo percorre a costa da Bahia trazida pela corrente marítima e pelos ventos. Na última quarta-feira (09), os resíduos haviam chegado em Guarajuba. De uma praia para a outra são cerca de 20 Km.

Até agora, o Ibama só confirmou 14 praias afetadas em seis municípios baianos. Neste cenário, os pontos mais extremos são Mangue Seco e Arembepe. O órgão ainda não confirmou a chegada do óleo nas praias de Lauro de Freitas.

O professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, explicou que os resíduos que chegaram em Sergipe e na Bahia estavam à deriva no mar e foram trazidos após o início do incidente nos outros estados do Nordeste.

Impacto ambiental
O temor do professor é de que o petróleo cru siga no sentido sul até Abrolhos, onde as baleias jubarte permanecem até meados de novembro. Entretanto, o óleo é mais denso que o que seguiu para o Maranhão e deve ter um deslocamento mais vagaroso. “O óleo que  continua boiando tem risco de chegar até Abrolhos. A mancha está indo para o sul e não se sabe se ela vai se depositar porque pode ficar densa e pesada, o que faz com que ela tenha a tendência de afundar”, disse.

A região afetada pelo óleo tem a incidência de tartarugas marinhas. Em Saubaúma, uma tartaruga e alguns filhotes do animal foram encontrados mortos, segundo informações do presidente da Associação de Moradores do local, Geisy Brandão. “É triste demais, estou de coração partido com essa situação nunca antes vista aqui no litoral”, emocionou-se. O Projeto Tamar, entretanto, afirmou não ter notificações de animais mortos.

A coordenadora de pesquisa e conservação da fundação Projeto Tamar, Neca Marcovaldi, explicou que os agentes trabalham com foco nos ninhos das tartarugas. De acordo com ela, os filhotes que nascem no extremo norte do estado são transportados para localidades mais ao sul, a partir de Praia do Forte, para serem liberados no mar.

“O volume [de óleo] que chegou aqui foi bem menor. Por enquanto, nosso protocolo aqui está mantido como sempre foi. Estamos atentos para ver qual é a tendência para saber o que acontece. Por enquanto, é apenas um alerta, a preocupação maior é com o extremo norte”, afirmou Marcovaldi.

As aves migratórias também podem ser afetadas, segundo Coelho. Ele explicou que estes animais vêm do hemisfério norte e passam pelo Nordeste nesta época do ano para descansar e se alimentar. “Me preocupa porque as aves passam pelos trechos contaminados. Elas se alimentam de organismos na areia da praia que estava em contato direto com o óleo. É possível que elas estejam se contaminando”, disse.

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