Golpistas clonam WhatsApp e fazem até 15 vítimas por dia na Bahia

Estimativa é da Polícia Civil, que dá dicas para evitar cair nos golpes

Uma esteticista de Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, comemorava mais um ano de vida em 20 de dezembro último, quando recebeu em seu celular uma ligação de um número de São Paulo, onde tem familiares.

Ela pensou que estavam ligando para parabenizá-la, mas, na verdade, era para clonar o número do WhatsApp e aplicar golpes que, segundo estimativas da Polícia Civil da Bahia, tem feito até 15 vítimas por dia no estado.

“Primeiro, me disseram que era para uma entrevista de trabalho e que eu tinha sido indicada por uma pessoa próxima. Pediram uns dados meus, como endereço de e-mail, e me falaram que ia ser enviado um código por mensagem”, contou ela, que prefere o anonimato.

Mas não parou aí: “Depois, um outro número me ligou dizendo que era da Receita Federal e que alguém tinha tentado registrar minha empresa de estética. Queriam confirmar uns dados e, enquanto eu falava, eles mudavam minha senha no WhatsApp. Um tempo depois fui usar o aplicativo e não consegui.”

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A esteticista informou que recebeu mensagens de que o WhatsApp dela estaria sem poder ser usado por 6h e que outra pessoa já tinha entrado em contato para pedir a senha. Enquanto isso, o golpista entrou em contato com várias pessoas fazendo se passar pela esteticista.

A conversa era sempre a mesma: se passando pela esteticista, o golpista relatou dificuldades para fazer transferência bancária por conta de limite excedido e pediu para que isso fosse feito, com a promessa de devolução do dinheiro à noite.

Prejuízo
Ao menos duas pessoas, das dezenas que receberam as mensagens, caíram no golpe e fizeram depósitos de
R$ 1.500 e R$ 1.850 em nome de Jeffeson Augusto Mariano, numa conta da Caixa Econômica Federal de São Paulo.

“Registramos queixa na polícia, meu WhatsApp já foi desbloqueado, mas até hoje ninguém foi preso. E continuo recebendo ligações. Hoje mesmo [quinta-feira da semana passada] recebi uma ligação de São Paulo com a mesma conversa”, disse a esteticista.

O prejuízo com o golpe foi maior para um tio de um educador físico de 44 anos que mora em Salvador e que acabou depositando R$ 2.980 na conta indicada pelo golpista, que se passou por funcionário da OLX, onde o educador físico havia anunciado a venda de um carro.

“Ele me ligou num sábado, disseram que era da OLX e que precisava confirmar meus dados para meu anúncio da venda do carro não ser retirado”, contou.

O educador físico ainda chegou a desconfiar da conversa, mas acabou passando para o golpista a senha do WhastApp. “Então, eles entraram em contato com minha família e amigos, pedindo que fosse feito o depósito. Meu tio nem pensou, fez logo”, relatou.

Eles também prestaram queixa na delegacia, mas ainda não conseguiram localizar os criminosos. “Tive de mudar de número e, depois do golpe, ainda entraram em contato de novo com o meu tio para pedir mais transferências”, afirmou.

Em julho do ano passado, quando o CORREIO abordou os golpes em sites de comércio eletrônico, a OLX informou, em nota, que envia mensagens aos usuários esclarecendo que a solicitação de códigos de confirmação não é uma prática da empresa.

De acordo com o delegado João Cavadas, coordenador do Grupo Especial de Repressão a Crimes por Meios Eletrônicos, da Polícia Civil da Bahia, esses golpes têm se tornado cada vez mais frequentes no estado.

Contudo, na Bahia, não há uma delegacia especial para apuração de crimes do tipo, apenas o grupo que Cavadas coordena, e que serve como suporte de orientação para delegados de todo o estado.

Nas delegacias, os casos são caracterizados como crimes de estelionato, independentemente de serem por meio virtual ou não. Por isso, não há uma estatística certa de quantos golpes do tipo ocorrem, apenas a estimativa.

“Há várias modalidades de crimes virtuais, mas pelo que temos visto a maioria é por meio do envio de um link para o WhatsApp ou e-mail e no qual a pessoa que clica já está fornecendo para o golpista os dados dela, como a senha do WhatsApp”, disse.

A partir da obtenção dos dados, o golpista passa a assumir o controle da conta e tem acesso a todos os contatos da vítima. Nos contatos, os golpistas perguntam se a pessoa está num banco ou usa aplicativo de banco, e pede que faça transferência bancária, utilizando alguma justificativa para tal.

Há casos também em que o golpista faz um depósito bancário falso (com envelope vazio) na conta da pessoa e no mesmo dia entra em contato para pedir que faça o estorno. “Importante a pessoa que está sendo procurada ligar e ver se a pessoa atende. É necessário também prestar atenção se a conta que está enviando é em nome de outra pessoa”, orienta o delegado.

Como evitar cair no golpe

Ligue para quem supostamente lhe enviou a mensagem:
Especialistas consideram importante verificar se as mensagens condizem com o discurso regular da pessoa que, supostamente, mandou os pedidos e avisar ao real dono da conta. “Eu sugiro que a pessoa ligue para o remetente da mensagem confirmando se é ele mesmo, ou até mesmo para alertá-lo, ou envie mensagens nas outras redes sociais para confirmar que é ele mesmo”, orientou o CEO da MF Press Global, Fabiano de Abreu, que, em dezembro passado, falou com o CORREIO sobre golpes através do WhatsApp. A MF Press é uma agência especializada em mídias sociais.

Não exponha dados:
O especialista também afirmou   que, para se proteger do golpe, é necessário ter a verificação em duas etapas do WhatsApp ativada e ficar atento ao receber e-mails de serviços que deixam dados de contato expostos publicamente.

Para recuperar seu WhatsApp hackeado:
Tente primeiro remover o WhatsApp Web, clicando em Sair no menu. Se não funcionar, envie um e-mail para support@whatsapp.com e copie e cole esse texto no corpo do e-mail: “Lost/Stolen: Please deactivate my account”. Lembre-se de colocar seu número de celular, com DDD, para que identifiquem qual conta devem desativar.

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