Projeção aponta que Bahia terá UTIs lotadas até o final de maio
Estimativa da Secretária de Saúde do Estado foi feita apenas com leitos do sistema público
(Manu Dias/GOVBA)
6 de março de 2020. Nesta data, o primeiro caso de coronavírus foi confirmado na Bahia – uma mulher de 34 anos, residente em Feira de Santana, que importou o vírus da Itália, por onde viajou. 45 dias depois, o número de infectados já chega a 1.377 pessoas, com 47 mortes pela covid-19, segundo o balanço divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) nesta segunda-feira (20). Além disso há 158 pacientes internados com a doença, sendo 64 deles em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Secretário de Saúde no estado, Fábio Vilas-Boas afirmou que a taxa de crescimento do vírus está um pouco abaixo de 10%, número inferior ao projetado pela pasta no início da guerra contra a pandemia que assola todo o planeta. Apesar disso, o crescimento é motivo de dor de cabeça para o secretário. Ele estima que, continuando nesse ritmo, o sistema público de saúde só vai resistir até o próximo mês de maio antes de saturar os seus leitos de UTI. Em bom baianês: é preciso engrossar o caldo do isolamento para não piorar a situação.
“Mesmo abaixo de 10%, isso nos leva a uma projeção de que, no final de maio, estaremos saturando o número de leitos de UTI disponíveis na rede pública. Isso nos obriga a ter que endurecer ainda mais as medidas de isolamento social, para que as pessoas possam reduzir essa taxa”, disse Fábio Vilas-Boas.
O isolamento social é um grande aliado para ‘frustrar’ as projeções iniciais de crescimento do contágio. Por mais que a medida não seja respeitada em sua plenitude, os baianos que se esforçam para respeitá-la têm contribuição decisiva na hora de conter o vírus.
O infectologista Fábio Amorim, que trabalha no Instituto Couto Mais, hospital de referência para receber pacientes da covid-19, explica a importância de se manter em isolamento social.
“O isolamento não é para tratar coronavírus, é para garantir que não adoeã todo mundo ao mesmo tempo. Quanto menos pessoas se encontrarem, tiverem contato, menor será o contágio”, explica.
O médico diz ainda que a medida ajuda as equipes médicas a ganharem tempo na luta contra a doença. “Hoje, o Couto Maia está cheio. Se as pessoas saem e se contaminam, e eu recebo aqui mais 10 pacientes graves com coronavírus, não tem vaga para internar. Se as pessoas ficam em casa, esses pacientes já internado vão se recuperar ou vir a óbito, abrindo mais vagas para novos doentes”.
Fábio alerta que o isolamento social não trará a cura do vírus, mas que será fundamental para, além de não colapsar o sistema de saúde, fazer com que seja mais fácil lidar com o coronavírus.
“Nós realmente precisamos controlar o número de pessoas que adoecem de forma ordenada. Ninguém vai deixar de adoecer por causa do vírus, porque ele seguirá no meio ambiente por meses e até anos, como o H1N1, mas o que tem que fazer é ter cuidado para que não adoeça todo mundo ao mesmo tempo, porque não teremos como tratar. O H1N1, por exemplo, tem hoje vacina e casos exporádicos, já é algo controlado, mas não deixou de existir”.
Para deixar ainda mais claro, o médico usou um exemplo. “O sistema de sáude tem uma quantidade limitada de leitos. É como um ônibus ou um avião. Só tem um banhheiro, se todos os passageiros comer algo estragado e passarem mal, não terá vaga no banheiro para todo mundo. É a mesma coisa”, ilustra.
Leitos
O CORREIO buscou a Sesab para saber quantos leitos de UTI estão disponíveis no estado. Em nota, a pasta afirmou que “uma estrutura com 2.418 leitos de referência para a coronavírus (Covid-19), entre clínicos e UTIs, adultos e pediátricos, está sendo montada para o atendimento de baianos infectados pelo vírus”.
A pasta enviou uma planilha informando que o Estado dispõe de um total de 2.701 leitos entre clínicos e de UTI – incluindo os de referência. Destes 1181 são de UTI para adultos e outros 41 de UTI pediátrica – ou seja, para crianças.
“Nós ampliamos muito a nossa rede de atendimento em toda a Bahia, porque precisamos estar preparados para atender as pessoas. O crescimento do número de infectados é muito rápido, acontece de forma exponencial. Quando menos se espera, há uma explosão de casos”, afirmou Rui Costa, governador da Bahia.
A capital baiana tem 882 leitos de UTI cadastradas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), entre pediátricos e adultos. O número é da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que também afirmou que a rede pública de Salvador dispõe de 5.284 leitos de enfermaria.
“Nesse primeiro momento, a gestão municipal deve implantar 250 novos leitos destinados aos pacientes com covid-19 com a construção de um Hospital de Campanha no antigo clube Wet’n Wild (obras avançadas), além da utilização integral da clínica Itaigara Memorial e Hospital Sagrada Família – o prefeito baixou um decreto para destinar a unidade hospitalar filantrópica para o acolhimento exclusivo de pacientes do novo coronavírus”, escreveu a SMS em nota.
Já o interior dispõe de 1019 leitos de referência para a Covid-19, de acordo com dados divulgados pela Sesab. Lauro de Freitas é o segundo município com mais leitos, totalizando 301 vagas, sendo 91 UTIs. A maior contribuição será do Hospital Metropolitano, cuja abertura será no mês de maio, com 191 leitos.
Depois de Lauro, quem aparece é Feira de Santana com 140 vagas, que estarão distribuídas entre o Hospital da Criança, o Hospital Geral Clériston Andrade e o Hospital Mater Dei.
Vitória da Conquista e Ilhéus terão, respectivamente, 81 e 61 leitos voltados para os pacientes com diagnóstico positivo de Covid-19. Em Vitória da Conquista, o Hospital das Clínicas e o Hospital Geral são as unidades preparadas para receber os pacientes graves.
Já em Ilhéus, o Hospital do Cacau e o Hospital de Ilhéus são as unidades de referência e retaguarda. Em Seabra, o Hospital Regional da Chapada está dedicando 46 leitos, sendo dez UTIs e 36 leitos clínicos.
Somam-se à estrutura 285 leitos para atender pacientes de baixa complexidade, que não tenham coronavírus. As unidades localizadas na capital baiana e São Félix são fundamentais para absorver os pacientes dos hospitais gerais. As unidades só receberão pacientes regulados pela Central Estadual de Regulação.
* Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco e colaboração da suebditora Fernanda Varela
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