O colapso iminente dos leitos de UTI no Vale do São Francisco e a tragédia que tem culpados

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O percentual de ocupação de leitos públicos de UTI Covid no Vale do São Francisco flutuou entre 90% e 95% nos últimos dias e os novos casos do novo coronavírus continuam a crescer. Unidades importantes como o Hospital Universitário (HU) e os hospitais particulares com leitos contratados para o SUS chegaram a 100% de ocupação nesse período. Estamos, neste momento, à beira do temido caos, quando o sistema de saúde entra em colapso e pessoas que dependem do SUS podem morrer à mingua nos corredores dos hospitais lotados.

O aumento no número de casos da chamada segunda onda tem papel importante no cenário atual. Os números de casos vêm crescendo de forma assustadora na região, sem sinais de desaquecimento. Entretanto, nossa equipe apurou que mais de 50 leitos de UTI Covid foram fechados desde o fim da primeira onda de contágio. Esses leitos fechados e que não foram reabertos, mesmo após vários dias com a capacidade de internação beirando os 100%, colocam em risco as cerca de 3 milhões de pessoas que vivem na nossa região.

O Governo do Estado da Bahia é responsável pelo fechamento de 10 leitos de UTI Covid que eram disponibilizados no Hospital Pró-Matre de Juazeiro até setembro, e o Hospital Regional de Juazeiro (HRJ) ainda bloqueou metade dos seus 20 leitos. Afora isso, a administração retirada à força do HRJ, após operação da Polícia Federal (PF), vinha deixando uma assistência precária à saúde da população, com falta de medicações e insumos, além de atrasos salariais aos profissionais de saúde atuantes nas linhas de frente contra a Covid-19.

Por outro lado, o Governo de Pernambuco havia investido em 10 leitos de UTI Covid na UPAE de Petrolina e também no hospital de campanha, que chegou a 20 leitos de UTI Covid disponíveis.

Todos esses trinta leitos foram desativados e o hospital de campanha já foi desmontado. Segundo apurado pela nossa equipe de reportagem, não há previsão de reabertura dos leitos fechados em nenhum dos dois governos estaduais da rede, seja Pernambuco ou Bahia.

O Governo Federal também chegou a disponibilizar 20 leitos de UTI Covid via EBSERH no HU, que chegou a fazer contratações emergenciais de funcionários para atuar contra o Covid e a universidade conseguiu a doação de 20 respiradores para atuar contra a pandemia.

Decisões vindas da EBSERH em Brasília determinaram a devolução dos 20 respiradores para o Estado de Pernambuco, sequer tendo entrado em operação. Dos 20 leitos de UTI Covid que chegaram a ser abertos, apenas 10 estão em funcionamento. Segundo apurado pela nossa equipe, houve pretensão de reabertura dos 10 leitos desativados, mas isso foi novamente impedido por determinação da EBSERH de Brasília.

Nos níveis municipais, só a Prefeitura de Petrolina contratou leitos de UTI Covid em hospitais privados da cidade. Juazeiro, cidade de grande porte da região, não se mobilizou no sentido de oferecer leitos de UTI Covid. Essa triste realidade também foi sentida nas demais cidades da região.

O que a segunda onda tem ensinado é que a pandemia não acabou e que cuidados precisam ser mantidos para prevenção de contágio. Também ensinou que os poderes federal, estadual e municipal precisam se unir no enfrentamento. Afinal, a responsabilidade é de todos.

Infelizmente, até o momento, a segunda onda parece estar sendo em grande parte negligenciada pelos nossos governantes, que não determinaram a reabertura de leitos aos patamares vistos na primeira onda que assolou a região. Se há disputas dos governantes de quem assume os custos, uma coisa é certa: quem está pagando essa conta de irresponsabilidade é a população do Vale do São Francisco, e poderemos contar mais mortos, muito mais em poucos dias.

Esperamos (ao menos) notas dos citados na matéria. O espaço para a resposta esta garantido. Aguardamos.

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Carlos Britto