Fiocruz Bahia realiza primeiras autópsias de vítimas da Covid-19 no estado
Um grupo de pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia) começou a realizar as primeiras autópsias de pessoas mortas pela Covid-19 na Bahia. Os cientistas buscam estudar como a doença é capaz de afetar diferentes órgãos, analisando como o organismo lida com a infecção e os principais indicativos de agravamento dos casos.
O projeto possui apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), e é liderado pelo pesquisador Washington dos-Santos.
“A autópsia que realizamos possui a alcunha de ‘minimamente invasiva’. É a forma mais viável que encontramos para seguir com o estudo, visto que o procedimento é seguro para a equipe que realiza, quando comparado às autópsias tradicionais, além de possuírem menos resistência por parte dos familiares da vítima em aceitarem disponibilizar o corpo, uma vez que ele não ficará com as marcas deixadas por uma autópsia comum”, ressalta Geraldo Oliveira , líder da equipe de necropsias da Fiocruz Bahia.
De acordo com o pesquisador, este método vem sendo cada vez mais executado ao redor do mundo e chama atenção para a necessidade de dar continuidade a pesquisas científicas como esta. “Através desses procedimentos que somos capazes de reconhecer precocemente os riscos de uma doença e as medidas de prognóstico que podem reverter um quadro de risco”.
Geraldo chama atenção para o fato de que este estudo utiliza amostras dos locais exatos onde ocorrem as lesões que podem levar a óbito. “Ao analisarmos pulmão, fígado, rim, baço, coração, entre outros, estamos nos permitindo fazer uma avaliação mais direta das alterações. Até agora, já realizamos oito autópsias minimamente invasivas, sendo inclusive a primeira vez que o procedimento foi realizado aqui na Bahia”.
As observações feitas ao longo dos procedimentos serão discutidas com o corpo clínico do Instituto Couto Maia (ICOM), em uma sessão aberta a profissionais de saúde e pesquisadores interessados pelo estudo da doença. “Algumas famílias, seja por motivo cultural, religioso ou afetivo, podem criar resistência na hora de autorizar a autópsia no corpo do falecido. Por isso, o procedimento minimamente invasivo pode ser a solução para realizar o estudo, sem agredir os limites impostos pelos entes queridos”.
A curto prazo, o trabalho poderá contribuir, em tempo real, com informações sobre as causas de morte dos pacientes durante o curso da pandemia. Segundo o pesquisador, as reuniões com o corpo clínico do ICOM serão mensais e servirão para apresentar os resultados encontrados, a fim de entender melhor a doença e os melhores tipos de tratamento.
As próximas etapas, envolverão estudos moleculares das amostras coletadas dos órgãos lesados dos pacientes, para obter conhecimentos que ajudem a sociedade a se preparar para enfrentar, de maneira mais adequada, futuros eventos como a atual pandemia. “Por fim, estamos também formando equipes técnicas habilitadas para fazerem essas necropsias minimamente invasivas. No futuro, poderemos responder rapidamente ao surgimento de possíveis surtos e doenças letais em qualquer parte da Bahia”, conclui.
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