Síndrome gripal aumenta em até 400% atendimentos nas UPAs do interior da Bahia
Porto Seguro registra falta de médicos e Feira tem atendimento suspenso por superlotação
(Arisson Marinho/CORREIO)
O interior da Bahia vive o mesmo surto de gripe que vêm pressionando o sistema de saúde da capital. Além da demanda regular de pacientes para casos diversos, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) espalhadas pelo estado têm de administrar os casos de síndrome gripal. Em Porto Seguro, a procura dos pacientes pelo serviço municipal aumentou em 400%. Segundo o prefeito, Jânio Natal, a demanda é maior do que a capacidade de socorro das unidades e há falta de médicos. Em Feira de Santana, a assistência precisou ser suspensa em duas UPAs por superlotação, no último final de semana.
“Na UPA do Baianão, que atendia de 80 a 100 pacientes normalmente, atendemos na quinta, 16, o total de 466 pessoas. No Arraial da Ajuda, o normal era entre 50 e 60 por dia e, agora, estamos atendendo cerca de 150. Em Trancoso, o atendimento era entre 20 e 30 e passou para 110. Isso é muito acima da capacidade”, disse o prefeito, em um vídeo divulgado pela prefeitura.
Jânio Natal destacou ainda que o número de profissionais de saúde disponíveis é insuficiente e que está enfrentando dificuldades para contratar novos médicos. “E por que não contrata mais profissionais? O problema é encontrar alguém. Estamos com um problema de falta de médicos. E isso em todo o Brasil, não é só em Porto Seguro”, acrescentou.
O depoimento do prefeito veio após o registro de reclamações sobre o atendimento nas UPAs da cidade. Nas redes sociais circula um vídeo gravado na última semana em que uma mulher aparece desmaiada no chão da UPA Baianão. Também é possível ver que a unidade está com alta demanda de pacientes. Nos comentários do vídeo, diversas reclamações sobre a demora na triagem dos doentes. O secretário de saúde de Porto Seguro foi procurado para comentar a situação, mas não deu retorno até o fechamento da edição, às 23h desta segunda-feira (20).
Preocupação com as outras cidades
O técnico da Coordenação Estadual de Imunização da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Ramon Saavedra, afirma que apesar da concentração de casos de gripe estar em Salvador, há preocupação com o interior.
“Os casos estão muito concentrados por enquanto em Salvador, mas estamos fazendo esse monitoramento. Há uma preocupação grande com a região sul por conta das inundações pela chuva, o que pode levar mais pessoas para as unidades de saúde até mesmo por outras doenças”, disse Saavedra.
“O que precisamos fazer é nos antecipar, porque é possível que o sistema de saúde em todo o estado fique sobrecarregado e não dê conta da demanda. É preciso lembrar que ainda não saímos da pandemia de covid-19 e que no período de Verão, que está chegando, temos aumento de casos de dengue, chikungunya e zika, por exemplo”, acrescenta o técnico.
O último boletim emitido pela Sesab mostra que até agora foram identificados por laudo 170 casos do vírus Influenza A, subtipo H3N2. Desse total, 48 evoluíram para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Dos 170 diagnósticos positivos, 144 são em Salvador.
“Dos 48 casos mais graves, 44 foram em Salvador e os outros dois em Camaçari e Lauro de Freitas. Então o alerta fica também para o espalhamento do surto para a Região Metropolitana”, advertiu Saavedra.
Vale destacar que nem todos os contaminados por vírus da gripe entram na contabilidade divulgada pela Sesab. Além dos casos em que não são feitos testes, os laudos podem apontar outro tipo de gripe que não seja causada pela Influenza A H3N2, que está em maior circulação atualmente.
“Um quadro clínico de gripe pode ser causado por dezenas de agentes etiológicos. Só no grupo da influenza temos vários e ainda temos outros tipos de vírus”, explica o técnico da Coordenação de Imunização da Sesab.
Duas mortes na Bahia
Feira de Santana fez mutirão de vacinação no fim de semana
(Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal de Feira de Santana)
A maioria dos casos recentes de gripe é de uma nova variante da mutação H3N2, a Darwin, originária na Austrália e que no Brasil começou a se espalhar a partir do Rio de Janeiro. Essa nova cepa do vírus Influenza tipo A já causou duas mortes na Bahia: uma mulher de 80 anos e um homem de 84, confirmou a Sesab.
O vírus da gripe, em comparação com o SArs-Cov-2, que provoca a covid-19, tem baixa letalidade, mas pode se aproveitar de organismos enfraquecidos, como idosos e pessoas com comorbidades.
A virologista Viviane Botosso, membro da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), explica que o vírus Influenza está em constante mutação e, por isso, a vacinação a cada ano é importante. “É uma evolução natural do vírus. As mutações são localizadas nas proteínas da superfície do vírus, que são as primeiras a entrar em contato com nosso sistema imune. Portanto, precisamos tomar nova vacina todo ano contra as novas cepas que começam a circular”, diz.
Viviane destaca que surtos de gripe tendem a ocorrer no Inverno e não em dezembro, dias antes do começo do Verão, e que a vacina, sozinha, não vai ser suficiente para conter o avanço da doença. “Estamos vivendo um surto totalmente atípico, porque não é o momento para a circulação de Influenza. O que acontece é que a vacina não protege 100% contra o vírus. Por isso, temos que tomar as medidas não farmacológicas, que são as mesmas contra o coronavírus: uso de máscara, isolamento e evitar aglomerações”, orienta.
De acordo com dados da Sesab (referentes à última semana, considerando que o sistema de informação do Ministério da Saúde está fora do ar), 69,6% do público-alvo no estado está vacinado contra a gripe. A meta é de 90%. O Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-Ba) foi procurado, mas não atendeu às ligações.
De qualquer forma, é importante ressaltar que a vacina atual contra o Influenza, que protege contra três subtipos mais graves do vírus da gripe, não tem proteção total contra a cepa Darwin. A última atualização dos imunizantes contempla a variação do H3N2 do ano passado, chamada de Hong Kong (em referência ao local de origem da mutação). As proximas vacinas é que já trarão proteção contra a variante australiana.
A vacina que está sendo oferecida este ano, no entanto, mesmo no caso do H3N2 Darwin, é importante para evitar as manifestações mais graves da gripe, uma doença que pode evoluir para pneumonia e SRAG.
Especialistas têm advertido sobre as diferenças entre a covid-19 e a gripe (veja detalhes no quadro ao lado).
Nesta segunda-feira (20), a prefeitura de Salvador também postou em seu perfil no Instagram cards explicativos sobre qual unidade de saúde procurar para cada tipo de sintoma. UPAs, gripários e PAs, por exemplo, devem ser reservados aos casos graves; enquanto sintomas leves são tratados nas UBS.
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