ABAPE sugere autonomia para municípios definirem público em eventos
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Com o avanço dos novos casos de Covid-19 na Bahia, a exigência do passaporte de vacinação e restrições em eventos públicos e privados voltaram a ser realidade em todo o estado. Assim como no início da pandemia, há dois anos, o ramo do entretenimento é um dos setores alvo dessas medidas.
Nas últimas duas semanas, por exemplo, o número de público autorizado em festas passou de 5 mil pessoas para 3 mil – com capacidade máxima de 50% de ocupação – após decretos publicados pelo governador Rui Costa.
As novas decisões, no entanto, têm causado atrito entre o setor e a gestão pública, pois gerou uma série de cancelamentos de shows na capital baiana e no interior. Para o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Eventos, Moacyr Villas Boas, o curto período entre a publicação de um decreto e outro tem prejudicado ainda mais as empresas do segmento. Uma das soluções apontadas seria a autonomia para que municípios decidam sobre limites de público ou outros regramentos para o segmento.
“Para alguns será viável e para a maioria, não. Mas o fato é que estão todos cancelando tudo. Como não existe diálogo nem planejamento do governo neste quesito, não nos sentimos seguros nem para planejar um evento para daqui a uma semana, porque semana que vem pode surgir um novo decreto restringindo ainda mais o limite de público. Não há consideração nem mesmo com os eventos que haviam sido planejados dentro dos decretos anteriores… Os decretos estão mudando em uma velocidade muito grande”.
“O setor já está completamente fragilizado, [mas] não temos nem como falar em números agora. Os cálculos dos prejuízos ainda estão sendo feitos. Com certeza será um impacto sem precedentes”, continua Moacyr. “Não é possível que toda a Bahia esteja na mesma situação. A Bahia é um estado maior que um país como a França. Então existem locais e locais. Não é possível que a régua passe como um rolo compressor colocando todos no mesmo balaio”, avalia.
“É incoerente tratar todos os municípios da mesma forma. Uma sugestão seria o Governo do Estado fazer recomendações e deixar cada prefeito tomar as decisões conforme a real situação de cada cidade. E, aqui, vale ressaltar que a sobrecarga dos leitos de UTI da capital é em função dos pacientes que vêm do interior. Então, que se invista em mais leitos de UTI e gripários no interior do estado”, conclui.
Durante entrevista coletiva no último dia 10, o secretário de Saúde de Salvador, Leo Prates, afirmou que, atualmente, 78% dos internados em leitos de UTI Covid em Salvador vêm de outras cidades baianas.
O Bahia Notícias questionou à Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) se a redução de público em eventos para 1.500 pessoas era eficaz já que outros setores, que também promovem aglomeração, ainda não sofreram restrições, a exemplo de shoppings, bares, restaurantes e praias. A pasta informou que as decisões em relação às flexibilizações ou aumento de medidas restritivas são tomadas com base no acompanhamento de diversos indicadores, a exemplo dos números de novos casos e de casos ativos de Covid-19, que estão crescendo e se apresentam maiores que os registrados no final de 2021.
“Ambientes nos quais são realizados shows e festas favorecem a interação entre as pessoas e as aglomerações. Nesses locais, tem sido registrada a presença do público sem máscara de proteção. Além disso, esses são lugares onde os frequentadores permanecem por muito tempo, o que aumenta a exposição aos riscos de contaminação pela Covid-19”, informou a Sesab.
EMPRESÁRIOS
Ao Bahia Notícias, empresários do entretenimento afirmaram que, apesar do cancelamentos dos eventos por causa dos novos decretos, o setor vai continuar se reinventando para atender o público.
“Tenho um respeito institucional e democrático pelo Governo da Bahia independente de quem esteja no momento sentado no Palácio de Ondina. Seguirei respeitando o decreto como fizemos desde o início da pandemia. Lei é pra ser cumprida O que temos a dizer à cidade de Salvador é que teremos projetos para 1.500, 1.000 ou 500 pessoas. Dentro do que for permitido, estaremos a serviço da Cidade da Música, gerando empregos, renda, movimentando a economia e ajudando o turismo da cidade”, declarou o empresário Ricardo Cal, sócio do Oquei Entretenimento.
Já o empresário Rodrigo Mello, da produtora Pequena Notável, lamentou o fato do setor de eventos ser visto como “propagadores do vírus”, mas reiterou que assim como nos últimos dois anos, o segmento continuará se reinventando em meio à pandemia. “A gente já vem lidando com isso há muito tempo. Se reinventando o tempo inteiro. A gente não esperava essa nova variante, então vamos ter que nos reinventar de novo para que a gente possa ter algo acessível ao momento”.
“Nos incomoda o discurso do governador, não as medidas, colocando a gente como os culpados pela disseminação do vírus. Também nos preocupamos com as vidas das pessoas. Tivemos parentes e amigos que morreram, sofreram com a pandemia. Porém, eu acho que está faltando diálogo e nos colocar como vítima desse vírus, não como vilões”, completou Melo.
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