Quatro servidores denunciados por homofobia são exonerados de prefeitura na Bahia
Nas conversas, uma servidora pede a outro que pare de enviar novos funcionários LGBTQIA+ para o setor em que ela trabalha
Foto: Reprodução
A prefeitura de Araci, no nordeste da Bahia, exonerou, nesta quarta-feira (20), quatro servidores envolvidos na denúncia de homofobia dentro da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte do município. O caso veio à tona depois que áudios e prints de uma conversa com teor homofóbico em um ‘grupo secreto’ no Whatsapp vazaram e viralizaram nas redes sociais.
Nas conversas, uma servidora pede a outro que pare de enviar novos funcionários LGBTQIA+ para o setor em que ela trabalha.
“Informamos a todos que os servidores envolvidos com a denúncia de falas e ações que descumprem os preceitos éticos da administração pública foram exonerados de suas respectivas funções.”, diz a prefeitura, em nota. Ainda de acordo com a administração do município, os fatos denunciados ainda estão sendo investigados.
Foram retirados dos cargos o diretor administrativo, assessora de educação, a diretora geral, e a assessora de gabinete da Estrutura Administrativa da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte.
Conversas vazadas
Após uma conversa com especulações sobre a vida amorosa de outras pessoas, uma das integrante do grupo, com quatro servidores da prefeitura, começa: “Que tanto veado junto. Consiga um homem para trabalhar na secretaria. Diabo de tanto veado”.
Em outros trechos, a conversa passa a desenrolar via áudio. A mulher então dá instruções para o colega falar com a prefeita do município, Keinha Jesus. “Zé, quando você estiver com Keinha, você fala: ‘Keinha, as meninas da secretaria tá pedindo pra você mandar homem pra trabalhar lá’. Chega de tanto veado. Porque veado junto é problema.”, diz. “Zé, tem que ter um homem aí pra animar. Minha gente, pra todo lugar que você olha só tem veado.”, continua.
Em outra parte da conversa, ainda em áudios, um homem avisa que tem uma pessoa em vista para ocupar uma vaga e diz que ele “é bom pra tudo”, pois cozinha e descarrega carros. “É veado ele”, diz rindo. “Como eu já tava para falar com Keinha, ia dizer assim: ‘olha, como lá já tá cheio, um veado a mais ou a menos não vai fazer diferença, não’. Mas eu tenho medo dela”, disse.
“Toda sala que você vai ali tem um veado. Quando não é veado assumido, é um que […] só Jesus na causa, viu!?”, diz outra mulher nos áudios.
Um morador da cidade, que denunciou o caso em suas redes sociais, fez questão de marcar a prefeita Kinha Jesus e a vice, Gilmara Magalhães. “Homofobia é crime, e eu quero que isso chegue ao máximo de pessoas. Espero que tomem uma providência cabível sobre essa situação, nós LGBTQIA+ merecemos respeitos, nosso lugar é em qualquer lugar. Pq não podemos ocupar cargos públicos? Pq associam nossa orientação sexual a nossa competência? O que tem haver? Não vão nos calar!”, protestou.
Em nota, a Prefeitura de Araci disse na terça-feira (19) que havia tomado conhecimento do ocorrido e informou que todas as medidas administrativas eram tomadas. Até então, a gestão não informou se as pessoas envolvidas na conversa eram servidores efetivos do municípios ou se possuíam cargos de confiança. As medidas adotadas pela prefeitura também não haviam sido detalhadas.
“A Administração Municipal e a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte de Araci vêm a público declarar que não tolera e que repudia qualquer fala, ação ou exposição que signifique atitude de homofobia, bem como preconceitos de qualquer natureza.”, finalizou o comunicado.
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