Tarifaço de Trump pode reduzir em 70% exportações de uva e manga do Vale do São Francisco

Os produtores do Vale do São Francisco receberam como uma “bomba” a notícia de que as frutas plantadas na região ficaram fora da lista de isenção brasileira de exportações aos EUA. Eles já preveem prejuízos com as vendas da chamada janela americana que começa em agosto e vai até novembro. Em entrevista a BBC, os produtores avaliam que “com muita oferta, o preço cai a um nível que às vezes nem paga os custos de produção”.

Os compradores chegaram a oferecer menos de R$ 0,80 pelo quilo da manga do tipo tommy a José Nilton Gonçalves, pequeno produtor de Lagoa Grande, em Pernambuco. No começo do ano, chegou perto do R$ 6. “Desse jeito, não dá nem para tirar a despesa”, conta.

Líder da Associação Comunitária dos Agricultores de Malhada Real, em Lagoa Grande, Cristiano Ferreira completa que todos os tipos da fruta já estão sendo afetados, mesmo os que não iriam aos EUA. “Todo mundo já vai sentir, do grande ao pequeno.”

A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre frutas brasileiras exportadas causou apreensão entre produtores do Vale do São Francisco. A medida, que atinge em cheio as exportações de mangas e uvas, pode gerar prejuízos milionários à região, que vive essencialmente do agronegócio.

O Vale do São Francisco produz 1,25 milhão de toneladas de manga por ano. Destas, 253 mil toneladas são exportadas, gerando US$ 348 milhões. Só para os EUA são 50 mil toneladas. Com a nova tarifa, a previsão é de queda de até 70% no volume exportado.

“A previsão era enviar 48 mil toneladas. Com a tarifa, isso pode cair para 13 mil. A maior parte vai para o mercado americano, que consome a variedade Tommy Atkins. A Europa não absorve esse tipo e o mercado interno não tem capacidade para tanto volume”, explica Tássio Lustosa, gerente da Valexport.

Em uma fazenda em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, a estimativa é de que 700 mil frutas fiquem sem destino externo e precisem ser vendidas no mercado interno. Quem planta uva vive situação parecida. Em 2023, o Vale exportou 13.800 toneladas da fruta para os Estados Unidos. Agora, há risco de superoferta no mercado nacional.

“Redirecionar tudo pressiona os preços aqui dentro. Pode não cobrir nem o custo de produção”, alerta Jailson Lira, presidente da COOPEXVALE.

A tendência é que exportadores de uva também atrasem os envios, como já acontece com a manga. “Se a situação continuar, os produtores não vão arriscar exportar no mesmo período do ano passado. Devem analisar semana a semana e enviar volumes menores”, afirma João Ricardo Lima, pesquisador da Embrapa.

A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) defende que frutas sejam retiradas da lista de produtos afetados pela tarifa. Para a associação, exportar para a Europa ou manter as frutas no mercado interno não será viável.

“Pegar essa fruta e mandar para a Europa vai derrubar o preço na Europa, vai ser ruim também. Se deixar no mercado interno, também vai ser ruim. Então, isso nós precisamos resolver à base do diálogo, da prudência, do bom senso, da flexibilidade”, afirma Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas.

Alguns setores brasileiros conseguiram escapar da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, enquanto outros foram diretamente atingidos pela medida.

O decreto assinado nesta quarta-feira (30) pelo presidente Donald Trump elevou em 40 pontos percentuais a alíquota sobre produtos brasileiros, mas também trouxe uma lista de 700 exceções que beneficiam segmentos estratégicos como o aeronáutico, o energético e parte do agronegócio.

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Redegn com informações uol / Foto ilustrativa arquivo Agrodan