Depois de ter agências explodidas, moradores sofrem em cidades sem banco na Bahia
Muitos precisam viajar para cidades vizinhas e outros estados
(Agência em Simões Filho foi atacada nesta terça (1º) (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO))
Em cerca de 20 minutos, tudo foi destruído. De repente, a agência bancária do Banco do Brasil em Coronel João Sá, no Nordeste do estado, deu lugar a uma fachada de destroços após a ação de um grupo de bandidos que usaram explosivos para assaltar o estabelecimento. Só que, enquanto o estrago veio rápido, a recuperação vem a passos lentos.
Passado o susto, os pouco mais de 16 mil habitantes da cidade completam, nesta quarta-feira (2), 117 dias sem esse e sem nenhum outro banco. Desde o dia 5 de janeiro, quando a agência de Coronel João Sá foi atacada, o estado teve outras 25 ocorrências de crimes contra instituições financeiras, segundo o Sindicato dos Bancários – dá uma média de um caso a cada cinco dias. Na terça-feira (1º), foi a vez da agência do Banco do Brasil em Simões Filho.
Como as outras, ela ficou fechada. E, da mesma forma, vai seguir assim por tempo indeterminado. O CORREIO procurou moradores das 19 cidades onde as outras 25 agências ou caixas eletrônicos foram explodidos por bandidos. Entre 17 casos, 11 agências não voltaram a funcionar e dez reabriram. Outras quatro instituições não foram localizadas.
O problema é que as agências atingidas acabam indo ao encontro de uma decisão das próprias empresas: do fechamento de unidades em todo o país. No caso do Banco do Brasil, o presidente do Sindicato dos Bancários, Augusto Vasconcelos, destaca que há uma definição por fechar bancos públicos, por parte do governo federal.
“Centenas já foram fechadas no Brasil. Muitas estavam danificadas e explodidas, o governo aproveitou e fechou de vez. Nós tivemos reuniões com direções de todos os bancos explodidos recentemente cobrando que haja reabertura das unidades”, diz. Em algumas reuniões, a entidade tem contato inclusive com a presença de prefeitos e vereadores das cidades atingidas para pressionar as instituições financeiras.
Já entre os privados, o Bradesco se destaca porque, em março, foi divulgado que a empresa pretende fechar até 200 agências no Brasil. “É uma decisão absurda, incompatível com o lucro de R$ 14 bilhões que só o Bradesco teve no ano passado”. Segundo ele, quase 50 agências de bancos públicos já foram fechadas no estado em dois anos.
Não há uma definição, no entanto, quanto às explodidas nos últimos meses.
“A maioria ainda não há uma decisão, mas as agências teriam condições de serem reabertas poucos meses depois”, reforça Vasconcelos.
Sem previsão
Em Coronel João Sá, não há sequer previsão de quanto a agência voltará a funcionar. Sem nenhuma outra opção – além de eventuais caixas eletrônicos em mercado –, moradores precisam viajar até para Sergipe para resolver situações bancárias.
“Parece que as obras vão começar essa semana. Para resolver coisas de conta, o jeito é ir para Jeremoabo (no Nordeste baiano) ou para Frei Paulo (SE). Meu filho, que trabalha como motorista, tem que ir três, quatro vezes por semana”, conta a comerciante Genilda Silva, 58 anos. São 75 quilômetros de distância entre a cidade dela e Frei Paulo. “É longe. Um prejuízo”, lamenta.
Em Correntina, no Extremo-Oeste, os dois bancos foram atingidos de uma só vez no dia 15 de janeiro. Mas, enquanto a agência do Bradesco reabriu dias depois, a do Banco do Brasil continua fechada até hoje. É o caso da agência do mesmo banco no distrito de Roda Velha, em São Desidério, também no Extremo-Oeste, que foi explodida por bandidos cinco dias depois da cidade vizinha.
Lá, a agência continua fechada, mas os funcionários conseguem fazer serviços administrativos – como desbloqueio de cartão, por exemplo. Não fazem nenhuma transação com dinheiro. “A agência fica fechada e as pessoas ficam do lado de fora. Vão entrando de um por um. Não tem nenhuma outra agência, nem lotérica, por perto e o jeito é ir em outra cidade”, diz um morador.
O distrito, que tem cerca de 8,5 mil habitantes, fica a 130 quilômetros sede, São Desidério. O jeito acaba sendo ir para Luis Eduardo Magalhães, município que fica a 80 quilômetros de Roda Velha. “É um lugar de produção agrícola muito grande, com muito fluxo de negócios. É uma perda enorme”, lamenta.
Em Amélia Rodrigues, no Recôncavo, os moradores vivem o mesmo drama. No dia 30 de janeiro, a agência do Bradesco foi explodida. O problema ficou ainda maior porque pouco mais de um mês antes, no dia 29 de dezembro, a do Banco do Brasil foi atacada por bandidos. As duas continuam na mesma situação.
“Estamos sem banco na cidade. O jeito é ir para Feira de Santana mesmo”, explica a moradora Ana Pereira, 42. Lá, também não há notícias de quando os estabelecimentos voltem a funcionar.
Em Boa Vista do Tupim, o Bradesco continua fechado, mas os moradores podem ir ao Banco do Brasil. Já em Macarani, no Centro-Sul, o prejuízo duplo também veio só de uma vez. As duas agências do município – Bradesco e do Brasil – sofreram um atentado no mesmo dia. “Até hoje, não tem previsão de consertar. As obras nem começaram e as duas continuam fechadas. Tem que ir para Itapetinga, porque não tem nem caixa (eletrônico) em mercado”, explica o estudante Mattheus Silva, 16.
As duas agências de Macarani continuam fechadas (Foto: Blog do Anderson)
Em Chorrochó, no Vale do São Francisco, o dono de supermercado Tomás Américo, 64, se preocupa com a demora da volta da agência do Bradesco – única da cidade. Sem banco, os moradores precisam ir para cidades como Euclides da Cunha e Paulo Afonso ou até mesmo para Cabrobó, em Pernambuco.
O ataque foi no dia 1º de março, mas as obras já foram concluídas.
“Soube que faltam instalações do sistema do banco, mas isso só no final de maio. Está dando um prejuízo financeiro imenso. O comércio parou tudo. O banco é o vetor de dinheiro da cidade e o dinheiro parou de circular. Espero que melhore logo, porque pior do que está, não pode ficar”.
Em Retirolância, após um ataque no dia 20 de janeiro, o atendimento na agência do Banco do Brasil retornou, mas de forma precária. “Voltou a funcionar de uma forma meio fraca, depois de uns 15 dias. Antes, tinham três máquinas funcionando. Hoje, após o ataque, são duas. Sempre que vou lá, estão ajeitando coisas nas máquinas. Até hoje, não funcionam normalmente. Cheguei a perguntar ao supervisor, mas não tive resposta. Várias vezes não consegui sacar dinheiro”, Wagner Antônio Ribeiro, 52, professor.
Caminho perigoso
Os moradores de Cardeal da Silva, no Nordeste da Bahia, também já estão ficando acostumados a peregrinar até Entre Rios. Desde que a agência do Banco do Brasil foi explodida, em 9 de março, precisam ir até a outra cidade para sacar dinheiro.
O caminho até que não é tão longe – cerca de 30 quilômetros – mas o medo de encarar as BAs 400 e 506 tornam as coisas mais difíceis. “A estrada é perigosa porque tem muito assalto. E não tem jeito, tudo tem que ir para Entre Rios: prefeitura, aposentados… Ontem (terça) mesmo eu fui. Vou direto”, conta o ajudante de eletricista Marcos Silva, 31.
Por outro lado, os ataques em Catu, que atingiram quatro agências bancárias no dia 30 de março, já foram neutralizados na maioria dos casos. Três das agências – Banco do Nordeste, Caixa Econômica Federal e Bradesco – reabriram poucos dias depois.
Em Catu, a agência da Caixa foi uma das que reabriu (Foto do leitor)
Só a do Banco do Brasil, a mais afetada, continua fechada. “Mas tudo está tranquilo na medida do possível porque tem postos alternativos nos mercados da cidade, então as pessoas têm ido para esses locais”, afirma a funcionária pública Maria das Neves dos Santos, 58.
O Bradesco de Elísio Medrado, no Centro-Sul, que sofreu um dos ataques mais recentes, também não reabriu. A cidade tem, contudo, uma agência da Caixa Econômica e um posto de atendimento que serve para depósitos e empréstimos.
“Estamos precisando desse Bradesco, viu? Tem horas que não tem dinheiro no posto e temos que ir para Amargosa. E só dá para tirar na boca do caixa, sem caixa eletrônico. Atrapalha porque tem horas que não dá para a gente sair, né?”, desabafou uma moradora.
Assaltos diminuíram
Procuradas, as assessorias do Banco do Brasil e do Bradesco não foram localizadas. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também não emitiu posicionamento até o fechamento da reportagem. Em março, a entidade divulgou a queda do número de assaltos a agências bancárias em todo o país – em 2000, eram 1.903 ocorrências, enquanto em 2017, o número foi de 2017. Em 2016, tinham sido 339.
Já a Secretaria da Segurança Pública do Estado ressaltou que, por dois anos consecutivos (2016 e 2017), a Bahia ficou entre os três estados que mais reduziram roubos a banco no país, segundo um levantamento da própria Febraban e de seguradoras.
“A conquista reflete os trabalhos de inteligência, prevenção e repressão contra as quadrilhas que atuam neste ramo. Lembra que recentemente a pena para quem rouba com explosivo foi endurecida e, juntamente com ela, as instituições financeiras foram instadas a investirem em sistema de câmeras, segurança 24h, dispositivos para inutilizar as notas assim que os caixas são violados, entre outras medidas. Por fim, [a SSP] destaca que essas exigências comprovam que segurança pública é obrigação de todos”, dizem, em nota, referindo-se à lei federal 13.654/2018.
Em todo o país, as agências bancárias são obrigadas a subemeter à Polícia Federal um plano de segurança para que possam funcionar – esse plano, que deve ser elaborado por técnicos – deve observar critérios como localização, fluxo de pessoas e layout de cada agência. Somente depois que ele for aprovado é que são instalados os equipamentos de segurança e os móveis do estabelecimento.
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