A execução de Cláudio Roberto Ferreira, o Galo Cego, de 38 anos, é mais um episódio da guerra interna do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi assassinado nesta segunda-feira, 23, enquanto estacionava em região badalada do Tatuapé, zona leste paulistana. Pelo menos dois atiradores, de touca ninja e fuzil, dispararam cerca de 70 vezes. Para investigadores e promotores ouvidos pelo Estado, o crime está ligado à queima de arquivo e é uma tentativa de acalmar membros do PCC após mortes de líderes.
No crime organizado, Galo, foragido da Justiça, ficou conhecido por ataques a banco, mas havia migrado para o tráfico internacional de drogas. Segundo a polícia, ele planejou, de dentro do presídio de Mirandópolis (SP), o ataque aos cofres do Itaú da Avenida Paulista em 2011.
Veja o vídeo:
Em 2008, havia participado de um assalto, em Guarulhos, que terminou com três mortes (um PM, um líder do PCC e uma vítima de bala perdida). Ele foi condenado por esse crime, mas recebeu liberdade provisória em 2016 após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski conceder habeas corpus. Estava foragido desde 2017, quando a Corte suspendeu os efeitos da decisão.
No PCC, Galo era integrante da ala liderada por Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro. Segundo investigações, porém, teria sido responsável por indicar o paradeiro do ex-aliado, executado em fevereiro, na frente de um hotel no Tatuapé. O ataque era uma vingança pela morte de dois líderes da facção: Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.
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A guerra interna do PCC começou em fevereiro, após a morte de Gegê do Mangue e de Paca, vítimas de uma emboscada enquanto passavam férias com a família no Ceará. Na ocasião, o helicóptero da dupla pousou em uma reserva indígena, onde os tripulantes – entre eles, Cabelo Duro – executaram ambos. Os dois tiveram os olhos furados, sinal de “olho gordo”, por supostamente estarem se beneficiando às custas da facção.
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Logo depois, a cúpula do PCC decretou a morte dos envolvidos no ataque. Na época, dois homens ligados a Cabelo Duro teriam sido submetidos ao tribunal do crime. Um era o braço direito do criminoso, José Adinaldo Moura, o Nado, que foi morto pela facção. Enterrado de ponta-cabeça, o corpo nunca foi encontrado.
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O outro seria Galo. Durante o tribunal, contudo, ele teria se comprometido a armar e participar de uma emboscada contra Cabelo Duro. Assim, seria poupado. O ataque foi uma semana após o crime no Ceará. Apesar de ter o costume de andar sob escolta, Cabelo Duro foi pego desarmado – sinal de que iria encontrar um aliado – e levou um tirou de fuzil na cabeça. Segundo a polícia, é Galo quem aparece nas imagens de câmeras de segurança conversando com ele antes da execução.
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Após a morte de Nado e de Cabelo Duro, outros envolvidos acabaram perdoados. Entre eles, o apontado como responsável por ordenar o assassinato de Gegê: Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho – aliado de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder do PCC, preso em Presidente Venceslau (SP).
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Investigadores acreditam que a execução de Galo, cinco meses depois, é uma estratégia para tentar acalmar os membros da “rua”, insatisfeitos com decisões da cúpula do PCC, que está presa.
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Em paralelo, serviria de queima de arquivo. Isso porque, se fosse preso, poderia entregar outros envolvidos nos ataques ou motivar a transferência de líderes para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) da prisão, considerado mais rígido.
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Galo tinha a polícia em seu encalço e quase foi capturado há cerca de dois meses. Os investigadores receberam informação de que ele iria comprar um carro no Tatuapé. Mas conseguiu sair da concessionária pouco antes de a polícia chegar.
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Como foi a execução
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O assassinato de Galo foi por volta das 23 horas, na Rua Coelho Lisboa. Segundo testemunhas, os atiradores teriam descido de dois veículos: um Hyundai HB20 e outro I30. O membro do PCC foi atingido na cabeça, pernas e braços. Levado ao Hospital do Tatuapé, já chegou sem vida.
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No carro blindado, um Audi Q3, policiais encontraram R$ 73,3 mil, além de cinco celulares e quatro sacolas com roupas novas. Para a Polícia Civil, o cenário é de que Galo poderia estar de saída do Estado. “Talvez estivesse jurado de morte”, afirma a delegada Ana Lucia de Souza, titular do 30.º DP (Tatuapé), que instaurou inquérito. A vítima também levava documentação falsa.
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O Audi Q3 estava bloqueado pelo antigo proprietário, após Galo pagar pelo veículo, mas não passar para o seu nome. No dia anterior à morte, câmeras da Secretaria de Segurança Pública identificaram que ele frequentou a região do Itaim-Bibi e do Ibirapuera, na zona sul.