Sete mulheres descobrem câncer de mama por dia na Bahia

Veja como identificar sintomas e buscar ajuda

Genivalda, Paloma, Vera, Maria, Dina, Iracema e Andressa. Cada uma dessas mulheres guarda na memória mais uma data: o dia em que receberam o diagnóstico de câncer de mama. Diariamente, em média, sete baianas recebem a confirmação de que têm a doença. O dado é do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que estima 2.870 novos casos de câncer de mama em mulheres no estado da Bahia por ano.

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Junto com diagnóstico vem o medo da morte. Afinal, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), diariamente, duas mulheres morrem em decorrência do câncer de mama no estado.

“Eu fiquei gelada. Me desesperei. Eu tenho uma mãe idosa e fiquei pensando em como poderia dar a notícia para ela. A parte pior foi quando o médico falou que eu teria que tirar a mama esquerda. Eu achava que ia morrer”, conta Genivalda Ferreira,  auxiliar acadêmica de 48 anos.

A médica mastologista Taís Argolo do Centro Estadual de Oncologia (Cican), vinculado à Sesab, explica que a situação de Genivalda não é única. Em oito anos atuando na área ela já perdeu as contas de quantos diagnósticos de câncer de mama já deu. Cada um, segundo ela relata, tem uma recepção diferente para cada mulher.

“O câncer é extremamente estigmatizado. As pessoas recebem no primeiro momento o diagnóstico como algo mortal. Contudo, é fundamental que esse resultado de exames não seja encarado com tal. Não há nenhum protocolo médico que indique a melhor forma de se passar essa notícia para a mulher e sua família. Vai da sensibilidade de cada profissional. Isso deve ser individualizado e feito da forma mais cuidadosa e informativa”, explica Taís, que também trabalha no Hospital Aristides Maltez.

A comerciária Paloma Nogueira, 42 , recebeu o diagnóstico de câncer de mama no dia do seu aniversário. “Eu tinha feito o exame em um mutirão, naqueles caminhões. Peguei o resultado e fui para o médico bem no dia do meu aniversário de 38 anos”. Ela lembra que entregou o envelope ao médico. Ao abrir, o profissional disse que ela estava com câncer nas duas mamas.

“Desmaiei na hora. Parecia que tinha aberto um buraco no chão. Foi o pior presente de aniversário da minha vida. Daquele dia em diante, eu tinha duas opções: lutar ou desistir. Preferi lutar. Em quatro anos, perdi as duas mamas, fiz 43 sessões de quimioterapia e ainda sigo lutando”, conta a mulher que é moradora de Barreiras, no Oeste da Bahia.

Em 2016, a família da empresária Vera Lúcia Matos, 69, recebeu junto com ela o diagnóstico de câncer de mama já em estágio de metástase (quando o câncer migra do ponto de surgimento e atinge outros órgãos). Do dia do diagnóstico – 4 de janeiro de 2016 – até o dia da morte de Vera foram 14 meses.

“Minha mãe nunca se cuidou. Ela sempre negligenciou a saúde. Quando eu completei 40 anos fui fazer minha primeira mamografia e levei ela comigo. No dia de pegar o resultado, ela não quis ir ao médico. Eu fui e recebi o diagnóstico por ela. Ela teve muita dificuldade para aceitar o tratamento. Foram 14 meses de muito sofrimento. Ela era muito vaidosa. Caiu cabelo, tirou as duas mamas e teve que retirar parte do fígado e do pulmão quando foi identificada a metástase nesses órgãos”, relembra Valéria Matos, que descobriu um ano depois da morte da mãe que também estava com a doença.

“Um ano depois que minha mãe morreu eu fiz uma nova mamografia – tinha sentido um carocinho no meu seio direito durante um autoexame. Quando recebi o diagnóstico, fiquei com muito medo para não ter o mesmo destino da minha mãe. Ainda estou em tratamento, mas sei que vou escrever uma história diferente. Eu descobri muito cedo. O diagnóstico precoce me ajudou, segundo os médicos. Tenho muito medo de morrer e a única forma  de não entrar para a estatística das mortes é lutar contra essa doença”, conta Valéria que trabalha como publicitária em Feira de Santana.

Na Bahia, entre 2014 e 2018, segundo a Sesab, 4.064 mulheres perderam a vida por conta do câncer de mama. Até o fim de 2019, 59,7 mil pessoas devem receber o diagnóstico da doença no Brasil, conforme estimativa do Inca.

A neoplasia é a mais comum entre as mulheres e corresponde a aproximadamente 28% dos novos casos a cada ano. O câncer é a segunda causa de mortes entre mulheres no mundo, ficando atrás apenas de doenças cardíacas.

Diagnóstico precoce 
O mês de outubro é conhecido mundialmente como o alerta internacional contra o câncer de mama. Na próxima quarta-feira (19), é celebrado o Dia Internacional contra o Câncer de Mama. Contudo, especialistas alertam que o ‘mês rosa’ tem que ultrapassar outubro.

O oncologista Luis Corrales, do Centro de Investigação e Manejo do Câncer na Costa Rica, ressalta que, em média, 40% das pacientes que não tem diagnóstico precoce acabam descobrindo a doença já quando há uma metástase. Ou seja, quando o câncer da mama se expande por outros órgãos.

“Buscamos hoje, no mundo, desenvolver técnicas e medicamentos para que essas mulheres, que são diagnosticadas com metástase, tenham o maior tempo possível de sobrevida com qualidade. Na medida que se tem medo ou receio de ter câncer, a mulher deve buscar uma forma de se precaver, pois quando o câncer já é descoberto em estágio avançado a única alternativa é buscar uma forma de manter a qualidade de vida, já que, nos casos de metástase, o tempo de vida acaba sendo de no máximo dois anos”, argumenta o oncologista que participou no início do mês do Seminário sobre Câncer de Mama em Bogotá, na Colômbia. O CORREIO foi o único veículo de comunicação do Brasil que participou do evento.

“As pessoas nesse momento do ano acabam ficando mais alertas com a necessidade do diagnóstico por contas das campanhas na mídia. Contudo, não podemos deixar esse diagnóstico restrito ao mês de outubro. As mulheres precisam entender que o cuidado com a saúde deve ser constante”, explica a mastologista Taís Argolo.

Presidente da Fundação RASA da Colômbia, que trabalha no combate ao câncer de mama na América Latina, Alejandra Toro, ressalta que o comportamento de não ir buscar os resultados dos exames é um padrão que se repete em muitos países, inclusive o Brasil. “Oito em cada dez mulheres demoram mais de seis meses para pegar o resultado dos exames. O que acontece, no caso da mulher que tem diagnóstico positivo, é que o câncer evolui nesse período e coloca em risco o tratamento. As mulheres precisam ter vigilância na sua saúde”, destaca.

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Tira dúvidas sobre o câncer de mama

O que é? 
É o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma. Responde, atualmente, por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. Também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença no Brasil. Para o ano de 2018, foram estimados 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil.

Quais os sintomas?
O sintoma mais comum é o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, no seio. Contudo, há tumores que são de consistência branda, globosos e bem definidos. Outros sinais de câncer de mama são edemas na pele semelhante à casca de laranja; retração da pele, inversão do mamilo,  descamação ou ulceração do mamilo,  e secreção no seios. A secreção associada ao câncer geralmente é transparente, podendo ser rosada ou avermelhada devido à presença de glóbulos vermelhos. Podem também surgir linfonodos palpáveis na axila.

O que provoca?
A doença é considerada multifatorial. Ou seja, há muitos motivos que podem provocar a doença. Há fatores hereditários, genéticos e de qualidade de vida.

Como prevenir?
A prevenção do câncer de mama não é totalmente possível em função da multiplicidade de fatores relacionados ao surgimento da doença e ao fato de vários deles não serem modificáveis. De modo geral, a prevenção baseia-se no controle dos fatores de risco e no estímulo aos fatores protetores, especificamente aqueles considerados modificáveis. Os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do câncer de mama são: falta de atividade física, tabagismo, má alimentação, peso corporal acima do indicado, hábitos sexuais, inadequados, fatores ocupacionais, bebidas alcoólicas, exposição solar, radiações e medicamentos.

A alimentação interfere?
Estima-se que por meio da alimentação, nutrição e atividade física é possível reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama. Controlar o peso corporal e evitar a obesidade, por meio da alimentação saudável e da prática regular de exercícios físicos, e evitar o consumo de bebidas alcoólicas são recomendações básicas para prevenir o câncer de mama. A amamentação também é considerada um fator protetor. A terapia de reposição hormonal (TRH), quando estritamente indicada, deve ser feita sob rigoroso controle médico e pelo mínimo de tempo necessário.

Qual o tratamento?
Para o tratamento de câncer de mama, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todos os tipos de cirurgia, como mastectomias, cirurgias conservadoras e reconstrução mamária, além de tratamentos paliativos e os tradicionais, conforme cada caso, como a radioterapia, a quimioterapia e a hormonioterapia. A lei nº 12.732, de 2012, estabelece que o paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no SUS, no prazo de até 60 dias a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso.  O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou várias modalidades combinadas, cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. O médico vai escolher o tratamento mais adequado de acordo com a localização, o tipo do câncer e a extensão da doença. Todas as modalidades de tratamento são oferecidas pelo SUS.

Como é feito o diagnóstico para o câncer de mama?
A detecção precoce é uma forma de prevenção secundária e tem o objetivo de identificar o câncer de mama em estágios iniciais. Existem duas estratégias de detecção precoce: o diagnóstico precoce e o rastreamento. O objetivo do diagnóstico precoce é identificar pessoas com sinais e sintomas iniciais da doença, buscando a qualidade e pela garantia da assistência em todas as etapas da linha de cuidado da doença. O diagnóstico precoce, portanto, é uma estratégia que possibilita terapias mais simples e efetivas, ao contribuir para a redução do estágio de apresentação do câncer. Já o rastreamento é uma ação dirigida à população sem sintomas da doença, que tem o intuito de identificar o câncer em sua fase pré-clínica. Atualmente, apenas há a indicação de rastreamento aos cânceres de mama e do colo do útero.

Fontes: Instituto Nacional do Câncer, Ministério da Saúde, Oncoguia, Pfzeir, Centro de Investigações e Manejo do Câncer (Costa Rica)

*O jornalista acompanhou o Seminário Educacional sobre Câncer de Mama Metastático, em Bogotá (Colômbia), a convite da Pfizer.

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