Provocação, números e jejum: Rodrigo e Guerrero frente a frente de novo
Em sete duelos desde tempos de Goiás e Corinthians, zagueiro conta quatro vitórias, três empates e um gol, enquanto peruano está em branco. Rivalidade segue em alta
Braço para lá, cotovelo para cá, apertão no peito, palavras ao pé do ouvido e muita provocação.Rodrigo e Guerrero protagonizaram clássico à parte no último encontro entre Vasco e Flamengo, dia 31 de março, em Brasília. Duelo tão marcante que seguiu sendo notícia até os tribunais. Domingo, em Manaus, zagueiro e atacante têm novo encontro, agora pela semifinal do Carioca. E se o Cruz-Maltino entra em campo ostentando invencibilidade de oito jogos sobre o rival e vantagem do empate para chegar na decisão, seu capitão conta com retrospecto não menos favorável na disputa particular: nunca perdeu ou sofreu gols do peruano.
Antes mesmo de atrair tantos holofotes, Rodrigo largou na frente ainda com a camisa do Goiás, em 2013, quando o Guerrero já era ídolo da torcida do Corinthians. Pelo Brasileirão, foram dois confrontos: empate por 1 a 1 no Serra Dourada e vitória surpreendente do Esmeraldino em São Paulo, por 2 a 1. Era só o aperitivo do que viria a seguir, dois anos depois.
Com o Vasco na Série B, não houve partida com o Timão em 2014 e o reencontro entre Rodrigo e Guerrero já aconteceu rodeado pela rivalidade entre cruz-maltinos e rubro-negros. Nas oitavas de final da Copa do Brasil do ano passado, o peruano participava do clássico pela primeira vez, mas ficou marcado por chance desperdiçada na frente de Martín Silva, em derrota por 1 a 0.
RETROSPECTO RUIM DO PERUANO
Esperança rubro-negra para virar o confronto, Guerrero pouco conseguiu fazer na segunda partida. Uma lesão no tornozelo direito, após choque com Serginho, o tirou de campo com somente 16 minutos de jogo. No fim, classificação vascaína e mais um ponto para Rodrigo, que melhoraria ainda mais seu retrospecto no clássico do Brasileirão. Em um Maracanã com bom público, o Vasco lutava contra o rebaixamento e o zagueiro marcou um gol de falta na vitória por 2 a 1. Guerrero? Novamente, nada fez.
Chegou 2016 e a sina do peruano continua. No clássico de São Januário, passou despercebido em campo e em Brasília não teve nada para comemorar. Após fazer esforço para estar em campo pouco mais de 24 horas depois de defender a seleção de seu país, Guerrero perdeu chances inacreditáveis na cara do goleiro e se estranhou com seu velho algoz. Provocado pelo zagueiro, retribuiu com uma cotovelada. Semanas depois, os dois foram parar no Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro.
Como réu, Guerrero teve sua primeira “vitória” ao ser absolvido e ver Rodrigo pegar uma partida de suspensão. O efeito suspensivo concedido ao Vasco, porém, deixou tudo no 0 a 0 e permitiu o oitavo encontro. As disputas acirradas em campo, por outro lado, não o tornaram desafetos. Tanto que o zagueiro elogiou a postura do atacante em comparação a outra vítima: Fred. “Ele não leva as coisas para fora de campo”, disse em entrevista ao programa “Seleção Sportv”. Em seguida, complementou ao falar sobre o retrospecto positivo:
– Não é o caso só do Guerrero. Entro com o objetivo de nenhum centroavante fazer gol, é essa a minha posição. Tenho que marcar meus adversários. Com ele, tenho levado vantagem, mas cada jogo contra o Flamengo é difícil. Cada jogo você tem que estar bem, tem que estar com a concentração lá em cima. A repercussão é grande quando marco jogadores desse nível, fico orgulhoso. Não é qualquer centroavante que você marca e marca bem, não deixando ele fazer gols.
MUITO ALÉM DA BOLA: O DUELO MENTAL
Conhecido por levar a melhor não só nas disputas físicas, mas também psicológicas com seus rivais, Rodrigo trata o tema com naturalidade:
– Não é nada pensado. É uma coisa que acontece no decorrer do jogo. Às vezes o centroavante se incomoda de você marcá-lo e ele não pegar na bola, por isso acaba ficando nervoso e, às vezes, nem é por minha causa. Centroavante tem que saber lidar com isso também.
Guerrero parece concordar com o algoz. Ainda em Brasília, depois do último encontro, ele minimizou as desavenças:
– Não foi nada. É coisa de jogo. Pergunta lá para o Rodrigo como que ele está.
Também após o empate em Brasília, Muricy Ramalho seguiu a mesma linha de raciocínio. Ex-jogador, tratou as provocações e o contato físico como recursos do futebol:
– É normal. É um jogo de choque, ele sabe que é jogo pesado. Os dois zagueiros marcam forte. Mas é jogo de contato, futebol é assim mesmo. Tem que ter paciência. Isso é importante. Rodrigo é um jogador experiente. Guerrero levou cartão e ficou tranquilo. Sentiu que não podia fazer mais corpo a corpo.
Por fim, o discurso ganhou eco em São Januário. Vítima muitas vezes de zagueiros mais viris, Nenê brincou com Rodrigo, mas alertou para os limites de uma provocação sadia:
– Acho difícil citar um cara tão chato como ele (Rodrigo). Mas não é um cara desleal. Ele tem a cabeça dele, alguma rivalidade dele ou até da imprensa. Não sei o que aconteceu no passado. É um jogador que não deixa espaço para o atacante. É complicado. Não pode passar do ponto para não prejudicar a ele mesmo ou o time. Ele sabe disso, tem uma cabeça boa, sabe o momento certo de fazer as coisas sendo leal. Quando ultrapassa (o limite), tem problema, como da última vez. Faz parte do futebol, da rivalidade, mas que fique somente dentro de campo.
Domingo, estará em campo mais do que a vaga na decisão do Campeonato Carioca. O Vasco defende a invencibilidade de 21 jogos, o tabu de oito partidas contra o Flamengo; Guerrero luta para também, enfim, superar Rodrigo. Jogo de corpo e provocação, com certeza não vão faltar.
* Colaborou Carlos Antunes, do Sportv.com
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