Bahia tem pelo menos 51 rodovias em más condições, aponta levantamento

Pesquisa foi feita considerando denúncias recebidas em relação ás rodovias

Se dirigir por estrada boa não é garantia de que nada de ruim poderá acontecer, imagine o cenário para quem trafega sempre por rodovias esburacadas, sem acostamento, cheias de curvas perigosas e com risco de aparecerem animais na pista. “Aí, só Deus na causa”, diz o representante comercial Josilton Silva Lemos, 49, morador de Gandu, no sul do estado.

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Toda semana, Lemos viaja pela BA-120, localizada entre Gandu e Ibirataia, e que está entre as 51 rodovias estaduais que se destacam pelas más condições de tráfego no estado em 2019, segundo levantamento da bancada de oposição da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), composta por 18 parlamentares – são 63 no total, dos quais 45 são da base de apoio ao governador Rui Costa (PT).

A pesquisa foi realizada com base nas indicações apresentadas pelos deputados da oposição, com solicitações de obras de asfaltamento, recuperação de asfalto, construção de acostamento e implantação ou melhoria da sinalização. Além da BA-120, as que mais aparecem nos pedidos são as BAs 512, 148 e 131.

“É o que sempre faço quando viajo: peço a Deus guarnição e vou, pois são muitos os perigos na estrada. Buracos, curvas perigosas, animais, não tem acostamento”, criticou Lemos, que se diz surpreso com a situação da estrada, sobretudo porque em 2012 e 2018 a rodovia passou por intervenções do Governo da Bahia, com gastos de mais de R$ 30 milhões.

Localizada num polo de produção de frutas – a principal delas é o cacau –, piscicultura e pecuária, a rodovia é muito utilizada para o escoamento dos produtos. De janeiro até 16 de outubro, a rodovia teve 81 acidentes, de acordo com informações da Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra), que não deu detalhes sobre quantidade de vítimas nem as razões dos acidentes.

“A estrada continua com vários pontos com buraco. O que fizeram, pelo que podemos perceber, foi uma operação tapa-buraco, que não resolveu muita coisa. Bastaram vir as chuvas e a buraqueira voltou. O correto seria colocar uma nova camada de asfalto no local”, disse o negociante de cacau Rafael Gonçalves, de Ibirataia.

“Tem chovido muito por esses dias, mas deu uma parada. Quando chove, a situação é a seguinte: os buracos ficam encobertos por água, ninguém sabe se é raso, às vezes passamos com o veículo e o pneu estoura. A chuva tanto abre mais os buracos quanto cria outros”, completou.

Nesse trecho da BA-120, relata Gonçalves, os motoristas têm de enfrentar mais um problema: o óleo na pista. “Jogaram uma capa protetora no asfalto que solta óleo quando chove e deixa a pista escorregadia. O caminhão vai virando na curva, tem de ter muita habilidade para controlar, mas às vezes não dá”, afirmou.

ba120BA-120, entre Gandu e Ibirataia está cheia de buracos (Foto: Divulgação)

Protestos
Em outras regiões da Bahia, sobram protestos e faltam obras. No início deste mês, um grupo de moradores do distrito de Altamira, em Conde, no Litoral Norte do estado, fechou a BA-233 para pedir a recuperação asfáltica da rodovia.

A situação provocou críticas até mesmo do deputado estadual Alex Lima (PSB), aliado do governador Rui Costa (PT): “É lamentável a situação da BA-233, principalmente para a população do distrito de Altamira, no Conde. Os buracos deixam a rodovia intransitável e os moradores já não suportam conviver com tanto descaso”.

A BA-283 é outra das que tem protestos recorrentes reivindicando obras de recuperação. Em maio deste ano, por exemplo, um grupo de motoristas fechou um trecho da estrada entre Guaratinga e Itabela, no extremo sul, para cobrar a solução para a situação da rodovia, que está esburacada, sem acostamento e sem sinalização.

Outra manifestação ocorreu dia 11 de setembro em Urandi, sudoeste do estado. Durante um dia, cerca de 50 moradores bradaram contra o que eles chamam de “a pior malha viária estadual”, um trecho de 18 km da BA-026, sem pavimentação e com uma ponte prestes a desabar.

O trecho fica entre Urandi e o entroncamento com a BA-156, que liga Licínio de Almeida a cidades do Sudoeste baiano, e o drama que vivem os moradores locais por conta da precariedade dessa estrada foi mostrada pelo CORREIO em reportagem publicada em setembro de 2018. Até o dia 16 de outubro, a BA-026 registrou 91 acidentes, de acordo com informações da Seinfra, que não deu detalhes.

images (1)BA-026, em Urandi, também está em péssimas condições (Foto: Divulgação)

Movimento
Na estrada, trafegam diariamente ônibus interestaduais das empresas Gontijo e Novo Horizonte que fazem a linha Espinosa-Mortugaba. O local também é trajeto para os caminhões que abastecem os mercados de São Paulo e Belo Horizonte com maracujás e mangas produzidos na região. São pelo menos 10 caçambas por semana carregadas dos produtos.

Há pelo menos dois anos que se pede providência com relação ao problema, mas só agora, no dia 22 de setembro, que o governo da Bahia autorizou as obras de pavimentação, com a assinatura da ordem de serviços. Máquinas já são vistas no local. A Seinfra informou que a obra na rodovia “está em fase de mobilização para ser iniciada neste mês de outubro” e que o investimento é de R$ 21 milhões.

Quem depende da estrada para trabalhar, como o empresário Edmilson Moreira de Deus, 37, dono de uma fábrica de móveis planejados em Urandi, e que precisa da rodovia tanto para receber material de trabalho quanto para fazer entregas, comemora o início das obras, mas espera que ela não demore a terminar – a Seinfra não informou prazo para a finalização.

“A população vem sofrendo muito pela falta da pavimentação”, afirmou o empresário, que por conta da precariedade na rodovia já teve problemas diversos em sua caminhonete, tanto na parte mecânica como nos pneus, que muitas vezes estouram ao passar em pedras de ponta afiadas.

Na estrada, os períodos de chuva deixam as pistas cheias de lama, e muitas vezes é preciso um trator para desatolar os veículos. Se faz sol, os buracos aumentam, assim como as famosas “costelas de vaca”, e a poeira sobe. “As pessoas, de certa forma, se habituaram com esses problemas nos últimos anos, mas chegou a um nível que ninguém suporta mais”, comentou o advogado Antonio Sá da Silva, de Urandi.

Na região do distrito de Monte Gordo, em Camaçari, a rodovia BA-512 está sendo chamada pelos moradores de “rodovia do atraso”. É que ela atrasa tudo: viagem para escola, entrega de produtos, ida ao médico.. E são só 12 km de rodovia.

Dono de um restaurante em Camaçari, Vinícius Cordeiro, 39, conhece bem a estrada, onde trafega para ir à casa de parentes ou fazer entregas de alimentos na região da orla. “Precisa de manutenção, há muitas áreas escuras e é quase sem acostamento”, disse.

Sem prioridade
Líder da oposição, o deputado estadual Targino Machado (DEM) avalia que o levantamento realizado na Alba mostra que “o governo não tem uma política de recuperação e manutenção das rodovias, que são o principal meio de escoamento da produção agropecuária do estado.”

“Não basta fazer intervenções pontuais em algumas rodovias. Precisamos de algo mais estruturante, uma política para as estradas, que são fundamentais não apenas para o escoamento da produção, mas também para o deslocamento das populações das cidades do interior do estado”, disse.

Targino alerta para os danos aos veículos e até acidentes causados pelas más condições das vias. “É uma queixa comum da população, tanto que costumamos ver protestos frequentes cobrando a recuperação de rodovias estaduais. As más condições são um risco para a vida dos motoristas”, declarou.

Ao comentar sobre a situação da BA-120, o deputado estadual Sandro Régis (DEM) disse que o valor investido pelo governo da Bahia na rodovia “foi mal-empregado, pois, como pode ser visto nas imagens e relatos de quem convive com os perigos desta estrada, a rodovia está caótica, esburacada, em estado deplorável”.

O CORREIO tentou contato com o deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder da situação na Alba, para comentar o caso, mas ninguém atendeu às ligações no gabinete do parlamentar.

A Seinfra diz que na BA-120 “a empresa que executou a obra já foi acionada para realizar os serviços necessários”, e que as obras de recuperação contemplaram a pavimentação da Travessia Urbana de Gandu, com investimento de R$ 2 milhões, e a implantação de 32 quilômetros de asfalto entre Itapé e Itaju do Colônia (R$ 28 milhões).

Na mesma região, a gerente administrativa da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região de Gandu (Coolerg), Kaline dos Santos, reclama da BA-537, entre Gandu e Itamari, passando por Nova Ibiá. “Tem uma semana que perdi a jante do meu carro (um Celta), depois de bater num buraco”, afirmou.

“Essas rodovias aqui da região estão numa situação bem parecida, o acostamento não existe, são muito estreitas, e a sinalização deixa a desejar em muitos trechos”, disse Kaline. Questionada sobre esse trecho da BA-537, a Seinfra informou que “está na programação a realização de serviços de manutenção”, mas por enquanto, não temos projeto para recuperar”.

Investimentos
De janeiro a setembro, diz a Seinfra, foram concluídos 622,08 quilômetros de recuperação de estradas, com investimento de R$ 266 milhões, e estão em andamento serviços de restauração, recuperação e pavimentação em 473,05 quilômetros, com investimentos de R$ 157 milhões.

Os investimentos incluem as BAs citadas acima e outras rodovias estaduais. Além disso, informa a Seinfra, “estão em licitação outros 745 quilômetros, que tem a previsão de terem as obras iniciadas ainda este ano”.

A Seinfra diz que “está em andamento, com 34% de conclusão, a pavimentação de 24,20 quilômetros da BA-512, trecho do Entroncamento da BA-093, Lamarão do Passé- São Sebastião do Passé, com investimento de R$ 11,4 milhões. A previsão é de que a obra seja concluída em janeiro”. Para o trecho entre Monte Gordo e Camaçari nada foi informado.

Ainda de acordo com a Seinfra, há investimentos previstos para a BA-148: há processo licitatório em andamento de dois trechos. Um para a recuperação de 58 quilômetros do trecho da Rotatória da BA-432 (Irecê)-Ibititá-Ibipeba-Barra do Mendes, com investimento de R$ 10 milhões.

O outro trecho que passará por obras será feito com recursos do Banco Mundial, via Programa de Recuperação e Manutenção de Rodovias Baianas (PREMAR II), vai do Entroncamento da BR-242 (Abaíra-Rio de Contas), com 195 quilômetros. Os envelopes com as propostas serão abertos dia 6 de novembro.

Além disso, informa a Seinfra, será iniciada até novembro a recuperação de 10 quilômetros dos acessos ao Povoado Lagoa da Escola e Algodões – Entroncamento da BA-148 (Dom Basílio), com investimento de R$ 224.791,20.

Já a BA-131 está em andamento, com 22% de conclusão, a implantação e pavimentação da rotatória em Senhor do Bonfim. O investimento é de R$ 327 mil e a previsão é de que os serviços sejam concluídos em novembro.

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