Pesquisador alerta para a situação operacional dos eixos da Transposição do Rio São Francisco
Envolvido em questões relativas ao Rio São Francisco há 15 anos, o pesquisador João Suassuna lançou no ano passado o livro “A Transposição do Rio São Francisco na Perspectiva do Brasil Real”.
A ideia da obra, segundo Suassuna, é esclarecer a existência do projeto para o centro-sul do país. Pesquisador e engenheiro agrônomo da Fundação Joaquim Nabuco, de Pernambuco, João Suassuna, considerado atualmente um dos maiores especialistas do País em questões de hidrologia do semi-árido e conhecimento sobre o Rio São Francisco, afirma que o resultado final, efetivado o projeto, irá surpreender muita gente.
Este ano o pesquisador tem contribuído para alertar sobre a real situação operacional da Transposição do Rio São Francisco.
Confiram:
Estamos iniciando uma atividade semanal de informações, aos interessados, da real situação operacional dos eixos Norte e Leste da Transposição do Rio São Francisco. Para efeito da análise dos volumes bombeados, para ambos os canais do projeto, foram utilizadas as informações do Plano de Gestão Anual da Transposição do Rio São Francisco, da Agência Nacional de Águas (ANA), em cujo Anexo II são estabelecidos os quantitativos volumétricos mensais para o uso das águas do caudal.
O Eixo Norte do projeto, que atende os estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, teve o seu último trecho inaugurado pelo presidente da Republica, em 26/06/2020, estando com cerca de 97,50% de suas obras concluídas, e há previsão da chegada da água, em território cearense, para o mês de agosto. Já o Eixo Leste do projeto, apesar de estar com 100% de suas obras concluídas, encontra-se, atualmente, em manutenção.
Após vultosos investimentos realizados na Transposição, cuja cifra já ultrapassa os R$12 bilhões, as águas do Velho Chico, infelizmente, ainda não estão chegando ao seu destino final.
A vertente Leste do projeto atende as demandas hídricas (abastecimento) das regiões agrestes dos estados de Pernambuco e da Paraíba (municípios de Campina Grande e regiões de seu entorno), havendo previsão, também, para o uso da água no agronegócio (projeto Acauã-Araçagi).
Já o uso prioritário das águas na vertente Norte do projeto é para o atendimento do agronegócio dos Estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, além de atender as demandas do abastecimento das populações da Grade Fortaleza (CE).
Além do mais, a falta de critérios nos usos das águas dos principais aquíferos do Velho Chico, a exemplo do Urucuia, têm interferido diretamente nas vazões de base dessas fontes hídricas em direção a calha do rio, resultando em significativas variações volumétricas no caudal. Um problema de grandes proporções criado, tendo em vista a ausência quase que total de gestão hídrica, em praticamente toda região semiárida do país, cujas consequências são previsíveis, principalmente se levado em consideração o lamentável estado de incapacidade hídrica existente no Velho Chico, que irá dificultar o atendimento das demandas oriundas dos múltiplos e conflituosos usos existentes em sua bacia hidrográfica.
Existindo essa problemática, é de se supor das dificuldades que existirão pela frente, principalmente se levado em consideração o cumprimento das metas do projeto da Transposição, notadamente no abastecimento de 12 milhões de pessoas na região setentrional nordestina e na irrigação de uma área estimada em cerca de 150 mil ha, numa tentativa de mudança do cenário de pobreza existente atualmente em toda região.
João Suassuna – pesquisador, engenheiro agrônomo
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Redação redeGN Foto Ilustrativa MDA