Feijão tem alta de 72% e valor da cesta básica sobe 3,5% em um mês

O feijão deixou a cesta básica do soteropolitano mais cara, sendo o principal responsável pela alta do valor gasto pelo trabalhador com alimentos. O preço deve continuar em alta, pelo menos até o mês que vem

Se o consumidor quiser colocar o feijão no fogo, vai ter mesmo que acrescentar mais água na panela para render. Isto porque o preço médio do feijão carioquinha (ou mulatinho) aumentou 72% de maio para junho em Salvador. A cidade teve a segunda maior variação de preço no Nordeste e a terceira no país.

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Os números foram divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Aumento que impactou na cesta básica cobrada em Salvador, que teve alta de 3,5% , justamente por causa do feijão, que custava R$ 6,60 em maio e subiu para R$ 11,40 em junho.

“Só o feijão foi responsável por 72,73% da alta no valor da cesta básica . Por si só, ele fez o estrago praticamente sozinho. O custo só não aumentou mais por conta da queda de preço de produtos como tomate e banana”, explica a supervisora técnica do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias.

O feijão acumula uma alta – de janeiro a julho – de 260% no atacado, conforme aponta levantamento do  Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Desde o início do ano, a saca com 60 quilos de grão chegou a R$ 550 em média, quando antes, no atacado, o preço máximo era de R$ 150. “O cenário atinge, na verdade, o feijão carioca. No ano passado, a soja  e o milho estavam mais atraentes que o feijão”, aponta o presidente do instituto, Marcelo Eduardo.

Ainda de acordo com ele, outro fator que encareceu o produto foi a perda na produção. “Tivemos perdas de safra significativas nos estados do Paraná e de Minas Gerais, os maiores produtores do país. No Nordeste, a seca também impactou bastante. A média geral de perda no país ficou em 16%”, acrescenta.

O preço do feijão só deve baixar no final do mês de agosto, com a chegada da próxima safra. “O Brasil consome mais de 155 mil sacas de feijão por dia. O feijão de corda e o feijão preto estão com preços bem razoáveis. É a oportunidade para o consumidor buscar outras variedades”, recomenda.

Valorizado
Em Salvador, o CORREIO acompanhou o preço do feijão na feira e no supermercado. Na Feira de São Joaquim, os comerciantes estão sentindo o impacto da alta. “A saca do carioquinha, que antes custava R$ 300, estou comprando por R$ 650. As pessoas estão comprando mais o fradinho ou o feijão preto. Quem ainda compra o carioquinha, leva bem menos. A saída tem sido menor”, constata o feirante Raimundo dos Santos.

A queda na procura pelo mulatinho também é percebida na loja do comerciante Marcos Freitas. “As pessoas têm reclamado muito e comprado menos. Eu costumava vender duas sacas de feijão carioquinha em oito dias. Agora, em oito dias não vendi nem 20 kg”, lamenta.

Nos cinco supermercados  por onde o CORREIO passou, o preço do feijão carioquinha mais caro foi o Ki Caldo, visto no supermercado Atakarejo da Calçada, por  R$ 12,98. O mais barato foi o Peg Pag, por R$ 5,99 na rede de Supermercados Extra.

Por conta disso, a baiana de acarajé Maria Lúcia Conceição até tentou, mas não conseguiu segurar o repasse do aumento no preço da feijoada que também vende em seu tabuleiro. “Não gosto de feijão aguado e continuo fazendo o prato do mesmo jeito. Aí tive que aumentar um pouco o valor da feijoada. Antes o prato custava R$ 10 e agora  está por 15”, conta.

Para não ficar no prejuízo, Maria Lúcia tem revezado o tipo de feijão. “Os fregueses realmente preferem o feijão carioquinha, mas tenho alternado entre o preto e o carioquinha por causa do preço”.

Feijão baiano
Mesmo sendo o principal produtor da região Nordeste, a última safra na Bahia sofreu redução de 25,4% em área plantada, migrando de 315.796 mil hectares, para 235.591 mil/ha. Aliado a isso, os problemas com a seca acabaram diminuindo a oferta do grão, que sai principalmente dos municípios de Euclides da Cunha, São Desidério, Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Quijingue, Monte Santo e Adustina.

Segundo informações da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura do Estado da Bahia (Seagri),  a produção nesta primeira safra teve retração de 30,3%, passando de 239.485 toneladas em 2015, para 166.880 t em 2016.

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